Chamusca 3/10/2020
Ganadaria.
David Ribeiro Telles
Ana Batista
João Ribeiro Telles
Forcados:
Chamusca
Ap. Chamusca
Um mano-a-mano não é uma competição, como se pensa. É antes um encontro fraterno, senão chamar-se-ia um frente-a-frente. E é isso que é encantador na tauromaquia, não se trata de uma competição, mesmo que haja triunfadores.
E na tarde da Chamusca houve esse mano-a-mano puro. Ana Batista, no ano em que festeja os 20 anos de alternativa, teve grande parte da sua educação taurina na Torrinha, berço do seu companheiro de cartel, João Ribeiro Telles, que atravessa um momento extraordinário da sua carreira, ajudado por uma belíssima quadra.
Os touros da tarde revelaram-se muito equiparados, sendo que foi a Ana que coube em sorte o melhor da tarde (o quinto), que ela aproveitou com uma cravagem magistral e uma lide coerente e de uma elegância que lhe é timbre.
João, tinha a vantagem – se assim se pode dizer – de lidar um curro de casa, com a divisa David Ribeiro Telles.
Como mano-a-mano, aquilo que a casa quase cheia (segundo os parâmetros covidianos) pode ver, foram os dois pratos da balança da tauromaquia da Torrinha.
Viram o clássico exemplar de Ana e o clássico atrevido de João.
Os touros não transmitiam, porém os cavaleiros nunca baixaram a guarda e nenhum desiludiu.
Já as pegas, pelos dois grupos da Chamusca, foram complicadas.
A meu ver, sobretudo, pela atipicidade desta temporada, que não permitiu sequer muitos treinos e ainda menos cartéis, de modo a deixar os moços das jaquetas mais rodados.
Na memória ficou-me a cernelha do grupo do Aposento da Chamusca, com um jogo de cabrestos pequenos e pouco unidos, um touro sem vontade de andar e a preciosa ajuda do campino, José Manuel Dias, que na valentia que é apanágio da sua profissão (ou devia dizer, modo de vida?) esteve a um braço da cara do touro para que este avançasse e os forcados (João Saraiva e Frederico Abreu) o pegassem, suscitando fortes derrotes e dificultando a entrada do rabujador.
A cavalo, vingam na memória os quiebros do cavalo negro do Ginja e as cravagens ao estribo da cavaleira salvaterrense. Dos touros não ficam saudades.
O toureio é arte, não é competição, e foram duas vertentes dessa arte que vimos na Chamusca.
Sílvia Del Quema