Estamos a escassos dias da “Feira da Moita”, não raras vezes afirmada como a mais importante do nosso calendário taurino.
Será, com certeza a mais sonante a sul do Estuário do Tejo, onde além dos cartéis do certame na “Daniel Nascimento”se anima a avenida Dr. Teófilo Braga, que desce da praça ao largo da feira.
Pela avenida, as largadas e a famosa Tarde do Fogareiro regada a fado vadio, fazem parte da iconografia da feira, além da procissão em honra de N.ªSr.ª da Boa Viagem com a bênção das embarcações e de toda a população.
A história da feira é antiga e, talvez, seja dos muitos anos que se passaram desde as suas remotas origens, que lhe vem o carisma que reveste o ambiente que tanto atrai a afición. Se não, vejamos que para chegar às suas mais antigas raízes, temos de recuar ao já longínquo ano de 1837 e caminhar pelos 175 anos seguintes.
A verdade é que as corridas de toiros em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem remontam antes mesmo da primeira praça ter sido edificada e inaugurada em 1872 sob o nome “Praça de Touros N.ª Sr.ª da Boa Viagem” ou “Praça da Caldeira”.
Quando este antigo tauródromo encerrou as portas, as festas interromperam-se mas voltaram dois anos depois com a inauguração da actual praça “Daniel Nascimento” a 16 de Julho de 1950, que figura entre o reduzido número praças de primeira categoria do nosso património taurino.
A Moita é pródiga neste património e do seu berço nasceram muitos homens de coragem… É assim que canta o poeta e compositor moitense José Casimiro Tavares no Fado da Moita:“Eu sou natural da Moita, de gente afoita e aficionada […]”.
Nos forcados, a vila vê hoje envergar duas jaquetas diferentes. Os mais antigos são os Amadores da Moita, de que não se sabe ao certo a data de fundação mas que pegaram já na inauguração da actual praça em 1950. Entre o muito da sua história, foram os primeiros a vencer o troféu para melhor pega da feira taurina – em 1973 – com uma pega de João Santinho.
Mas de muitos outros nomes da forcadagem nascidos na Moita se contam histórias de coragem. Entre esses, o do mítico João Marujo (que foi chegou a comandar o então grupo da Moita), o do rabejador João Soeiro, o de Agostinho Vieira “forcado dos braços de ferro” ou o de Alberto Vieira, que se conta ter rabejado mais de 2000 toiros.
Como se descrevia nos primeiros registos de pegas que se encontram aos dias de hoje “os forcados são da villa”… E mais tarde, surgiu o Aposento da Moita nascido da cisão entre os elementos dos Amadores por divergências políticas. Foi seu fundador José Manuel Pires da Costa em 26 de Maio de 1975, a quem sucederam como cabos o Dr. Manuel Vieira Duque e João Manuel Simões, Hélder Queiroz até ao actual, Tiago Ribeiro.
O trabalho deste grupo ao longo da história coloca-o agora nos lugares cimeiros do escalafón, que o coloca nas mais importantes corridas da temporada e nas mais importantes feiras taurinas.
Também no toureio a cavalo se fez história nesta terra com nomes como os de Francisco de Almeida e José Pedro Pires da Costa.
É, porém, notoureio a pé com raízes antigas, que a história do município ganha outra dimensão. Em 1984 tirou a alternativa António do Carmo Costa, primeiro matador de toiros de berço moitense. Depois da mais antiga escola levada pelo espanhol AlejandroSaez “Alé”, nasceu no século XX a escola de toureio da Moita, sob orientação de Armando Soares, apoiado nos bandarilheiros Manuel António e Júlio André. Desta nova escola surgem três nomes do nosso século: Procura – poderoso nas bandarilhas, Velazquez – que deslumbrou os amantes do toureio de arte; e Parrita, que se apresentou em 93 na praça de Abiul.
Esta escola, que agora levada por Luis Procuna e o bandarilheiro Júlio André, faz a ponte com os dias de hoje em que vários alunos provam os primeiros sabores do toureio.
É desta história longa e imensa que se faz a feira… Seis corridas que nos propõe a empresa “Toiros e Tauromaquia” de António Manuel Cardoso “Néné”. É desta história que nasce o carisma da feira, entre o toureio a cavalo, o toiro, os forcados e o toureio a pé, que a tornam a feira mais representativa do nosso PATRIMÓNIO TAURINO.
Inimitável e inigualável, a feira da Moita é património taurino tão profundo quando a história que conta.
Sara Teles