A clássica pergunta se gosto mais de Toureio a pé ou a cavalo, deve ser quase como perguntar a um pai se gosta mais de um filho que de outro, sem resposta possível!
Toureiro… apenas oito letras para descrever seres excepcionais pela sua entrega, paixão, arte, devoção e tantas outras qualidades.
Até podem parecer pessoas comuns à primeira vista, mas há qualquer coisa de espiritualidade que os converte numa espécie de divindade neste microcosmos da vida e da morte.
E haverá sempre quem os chame de loucos, muitas vezes incompreendidos outras, aplaudidos, mas sempre, sempre estratosféricos.
Valham-nos as homenagens a Homens maiores que nós… Com uma praça estupidamente vazia, e a meu ver, não colam as desculpas de férias, do toureio a pé em Portugal ser o que é… senti vergonha alheia, e sei que não fui a única!
Pois é, o mais internacional matador de toiros português, Víctor Mendes, foi homenageado na noite da passada Quinta-Feira, 9 de Setembro, pelos seus 40 anos de alternativa, (Parabéns Maestro!), na Praça de Toiros do Campo Pequeno, promovida pela empresa Ovação e Palmas (coragem do Sr. Luís Miguel Pombeiro).
Roman Collado, José Garrido, Juanito e Manuel Dias Gomes a confirmarem o pedazo de toreros que são.
E Juanito felizmente a recuperar do último susto que teve na Moita.
De seu nome Victor Manuel Valentim Mendes, cedo se mudou para Vila Franca de Xira. Trompetista na altura da Banda do Ateneu Vilafranquense, era nessa condição que assistia às corridas. Por volta dos seus 14 anos, apresentou-se num concurso na Palha Blanco, passando posteriormente a ter aulas de toureio com o Maestro José Júlio. Como não acreditar em sonhos?
Hoje, retirado das arenas, dirige a Escola de Toureio “José Falcão” em Vila Franca de Xira e é co-apoderado com o empresário espanhol Joaquin Domiguez, do matador João Silva “El Juanito”.
Passei muitos anos “atrás” dele, a ver a sua maestria, o seu charme, como não ir agora?
Obrigada Maestro por tudo o que nos tem dado.
E não terá um curriculum que valha por si só? Parecemos quase como crianças, eternamente despreocupadas, ingénuas, constantemente a adiar lutas, e demonstrações de respeito e admiração.
Saiu em ombros pela Puerta Grande de Las Ventas em 1984 e em 1987. Popularizou-se pela brilhante execução do tércio de bandarilhas. Despediu-se oficialmente das arenas a 30 de setembro de 2001, com 20 anos de alternativa.
Por falar em molduras humanas no toureio a pé em Portugal, há exactamente 20 anos atrás, o matador de toiros Pedrito de Portugal, estoqueou um toiro, numa corrida integrada nas Festas em Honra da Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita.
Cheia, estava cheia, estava lá e vi!
A estocada foi fulminante, um momento absolutamente histórico na Daniel do Nascimento.
Alexandre Pedro Roque Silva, passeou as duas orelhas e rabo como máximos troféus, aplaudido por um público em êxtase total. Foi condenando por fim, a pagar uma pesada multa.
Após isto, na Moita, organizam-se e ajudam Pedrito de Portugal a pagar multa com um festival taurino, grandes nomes da tauromaquia espanhola como Niño de la Capea, Pepe Luis Vasquez, Óscar Higares, Enrique Ponce e Julián López “El Juli”, e claro, Pedrito de Portugal.
Pois, outros tempos quizás… e tantos, tantos outros momentos marcantes na nossa tauromaquia a pé!
Quer-me cá parecer que cada um de nós tem de começar por querer aprender, trabalhar, defender causas comuns, tradições e acima de tudo, respeitar os outros. Era tão bom se nos uníssemos mais, sem ser para falar de Futebol, ou só dizer mal.
Mas não perdi a esperança por completo! Tive a sorte de poder estar na Moita esta semana, onde a moldura já era outra. Haja fé ainda!
Morante de la Puebla, João Ribeiro Telles e João Moura, forcados amadores da Moita.
O mundo pode ser um lugar muito estranho – mas também muito poético. Um
exemplo dessa magia é ele… e nem quero saber se são Morantistas ou não, pessoas inteligentes sabem reconhecer valor a quem o tem e ponto!
Mas para além de lhe reconhecer talento e de se perceber que é um excelente “artista”, existe algo que se vislumbra e que falta imenso nestes dias por aí: uma gigante, uma imensa liberdade. É também isso que irrita tanto uns que nem por sombras a conseguem respirar. E que bem que esteve no seu segundo toiro…
Há coisa mais maravilhosa que os vêr entrar en el ruedo, vestidos com o Traje de Luces, o Capote de Paseo e a Montera na mão direita?
Até o desfilar, quase sacerdotal durante o paseíllo, o ar solene, compenetrado e atento.
Arriscam a vida de peito aberto.
Alguém disse e tão bem: “Es que lo que pasa en el ruedo no puede describirse con palabras”
E se há coisa de que não precisamos agora, é de nenhum tipo de “Destoureio”, apeado ou a cavalo!
Ester Tereno