“El-Rei esperou o toiro, que quis Deus que passou sem entender nele”, escreveu Garcia Resendeno século XV – contando que quando o rei e a rainha se dirigiam a pé para assistir à tourada, foram surpreendidos por um toiro em fuga.
São os relatos mais antigos de toiros em Alcochete, onde daqui a dois dias começa a septuagenária festa do Barrete Verde e das Salinas, criada em 1941 por José André dos Santos, co-fundador do Aposento do Barrete Verde.
Terra de forcados e de afición imensa, Alcochete tem muitas histórias destes românticos da festa a preencher-lhe a alma… Como as míticas da dupla de cernelheiros José Carraça e Joaquim Valentim, que a todos impressionavam pela imensa valentia…!
Por Alcochete também passaram nomes de fora, rezando também a história de Nuno Salvação Barreto, falecido cabo dos Amadores de Lisboa, que nas largadas das ruas de Alcochete consumou a sua primeira pega.
Entre muitos pedaços de tradição, pelas ruas alcochetanas vivem as figuras do Campino, do Forcado e do Salineiro, no fado e no flamenco que soam a cada viela; o cheiro da sardinha assada e os toiros – a grande festa dos toiros!
Está prestes a começar uma das nossas feiras mais importantes e carismáticas: a feira do Toiro-Toiro, onde vão sendo chamadas as grandes figuras de cada temporada. Ano após ano, o prestígio da feira é maior e, a cada ano, são sempre mais os aficionados que não a perdem.
Como sempre, no segundo fim-de-semana de Agosto a partir de sexta-feira, começa a feira taurina na acolhedora praça de toiros (cuja história remonta a 1921) –com a novilhada do 1º Ciclo, pelas escolas taurinas com Jacobo Botero, Rouxinol Jr., Alexandre Gomes, Sérgio Nunes, Pedro Noronha e João Rodrigues.
É uma das feiras taurinas mais importantes do país, e das mais antigas do nosso património taurino, como é já também o seu concurso de ganadarias (que neste 30º ano apresenta as ganadarias de Condessa Sobral, Pinto Barreiros, José Lupi, Hds. De Conde Cabral e Murteira Grave, no próximo domingo dia 12).
Aliás, não fosse esta a feira do Toiro-Toiro; porque Alcochete é também terra de toiros.
Na sua história, conta-se a estória do ganadero Estêvão António de Oliveira Jr., dono de terras que iam do rio das Enguias, Camarate e Pancas até Ponta de Erva, mandou a Madrid o “Cortiço” em 1862 – toiro que recebeu 20 varas, como nunca se havia visto.
Desta ganadaria era também o “Sombrero”, cuja cabeça ainda pode ver-se numa das salas do Aposento do Barrete verde – o toiro que matou “CarneceritodelMejico” em Outubro de 1947 – e que faz as delicias dos visitantes daquele mítico local de festa.
Os cartéis do Toiro Toiro apresentam também uma corrida à portuguesa, na terça-feira, com Rui Salvador, Sónia Matias, Gilberto Filipe, Tomás Pinto, Salgueiro da Costa e João Branco, para toiros de Hato Blanco de encasteDomecq.
A última corrida, na quinta-feira será este ano, a 1ª Corrida Osborne com um mano-a-mano que apela a encher a praça: Rouxinol e Salgueiro e toiros de Vale do Sorraia.
Como sempre, rezando em Alcochete a história distinta de dois grupos de forcados, a festa tem o condão de ver os dois grupos, sem se cruzar, em “rivalidade” nos quatro cartéis. Neste ano o Aposento do Barrete Verde pega a novilhada de dia 12 e a corrida à portuguesa do dia 14, com o grupo mexicano de Queretaro.
Por seu turno os Amadores de Alcochete pegam o concurso de ganadarias dia 12 e partilham cartel com o Aposento da Moita na corrida de encerramento a 14.
Sobram motivos para ir a esta feria…
Sara Teles