O bom senso e o próprio senso comum há muito tempo que concordam no princípio de que as crianças são o futuro, e a iniciativa da escola taurina da Moita é louvável precisamente por isso.
Em dois sábados, dois matadores de renome – Gines Marin e Jose Garrido – estivaram na Monumental da Moita em aulas práticas de toureio, com dois bons tendidos e, sobretudo, com muitos jovens na arena, a partir dos seis anos, ainda que nem todos tenham tido momento de debutar com um animal.
No último sábado, Garrido esteve ante novilhas de Mata-O-Demo, das três, destacaram-se a primeira (cheia de passes!) e a última, muito cooperante. O matador extremenho atrasou-se e só iniciou funções na segunda vaca, antes disso, os jovens estiveram a treinar de salão e a desfrutar da boa novilha que serviu a quase todos os alunos das várias escolas presentes.
A importância da iniciativa é maximizada pelo recente ataque da associação Animal à iniciativa Dia da Tauromaquia, que se celebra no dia 29 de Fevereiro no Campo Pequeno. Esta associação que segue e promove a filosofia animalista como estilo de vida, resolveu agir de modo a criticar – procurando evitar – a participação das crianças no evento.
Uma associação que defende os animais resolveu ‘defender’ as crianças. Na verdade, só não interpreta que não quer: uma associação que quer ditar um estilo de vida está a utilizar as crianças para alcançar o seu fim de exterminar a tauromaquia, em todas as suas vertentes.
Se não houver crianças a conhecer o mundo do touro, muito em breve deixarão de haver aficionados. Isso seria o fim da tauromaquia. Eles sabem-nos e nós temos de o saber.
Se impedirem as crianças a conhecerem a tauromaquia, um dia vão atingir os seus fins. E é por isso que, abrir as portas aos jovens para usufruírem dos ensinamentos dos mais velhos enquanto toureiam vacas, é um tesouro incomensurável nos dias de hoje.
Os mais jovens em praça, ante a primeira novilha, foram Henrique Salgueiro da Câmara e João Bernardo, lidando conjuntamente, por chicuelinas o primeiro e capotazos o segundo, um com nove anos e o outro com dez, respectivamente. Só lhes vimos prazer ao praticarem uma arte enraizada na nossa cultura.
A nossa cultura é aquilo que nos define enquanto povo, no dia em que qualquer pedacinho dela se perca estamos a desmoronar-nos mais um pouco. A preservação desta nossa cultura começa em iniciativas como a da Escola Taurina da Moita, onde é mestre o Matador Luís Vital Procuna, e termina no coração de qualquer aficionado que não permita que impeçam os seus filhos ou netos a participar na tauromaquia.
Ao mesmo tempo, temos de entender que também estamos a defender a democracia, ao impedir que nos limitem a liberdade de escolher o que apresentamos e ensinamos à nossa prol. Porque dizer o que podemos ou não apresentar aos nossos jovens é censura e é descredibilizar-nos como capazes para educar a geração vindoura.
Sílvia Del Quema