É certo que não se fazia esperar casa cheia, no entanto o cartel era digno de uma boa casa, mas… nem de perto nem de longe! A alegria e a luz do Verão que enaltece as cores das casacas, das flores e das bandarilhas recolheu, dando lugar à noite que entra pela tarde dentro trazendo consigo uma aragem fria.
O espectáculo foi morno, valeu pelo desembaraço dos cavaleiros e forcados perante um curro do Eng.º Luís Rocha e Santiago abaixo do nível a que estamos afeitos. Desencastados, reservados e a complicar, foi nestes moldes que saíram grande parte dos seis toiros lidados.
António Telles entrou cheio de vida, pronto para lidar com a mesma determinação como se de uma praça cheia em tarde acalorada se tratasse. Recebeu um toiro preto de murrilho arrepiado a marcar 510kg na balança. Deixa como é seu apanágio três compridos à tira com o toiro a responder ao cite, e sem trocar de montada entra nos curtos cravando em sortes frontais após uma brega ligada. O Maestro resolve então ajustar a montada para os dois ferros finais adornados com um bonito pasodoble. No terceiro incita à investida do nº 59 colocado em linha recta e arranca para ele a cravar com rigor. O último ferro desta lide tem inicio com uma brega viva para depois citar e mandar, e perante um toiro a arrancar pronto o cavaleiro da casa beringela crava correcto em sorte frontal.
Para o segundo lote António tinha reservado um castanho listão de murrilho destacado a pesar 445kg e numa lide brindada à praça, o cavaleiro inicia a sua lide com a cravagem de dois compridos, com fraca resposta aos remates por parte do cuatreño, o que era desde logo prenuncio da falta de interesse na luta. À entrada na ferragem curta, deu-se com um toiro a raspar e a descair para tábuas, António viu-se e desejou-se para o colocar em sorte, ainda assim deixou um curto frontal e um segundo e terceiro a pisar-lhe os terrenos e a sacar ténues investidas que permitiram lhe cravar com valor.
O cavaleiro entusiasta não teve grande margem para fazer valer o seu toureio recreado, Rui Fernandes começou por lidar um preto bragado corrido com 450kg. A intenção de brindar à praça, foi certamente na expectativa de proporcionar uma boa lide, mas o toiro assim não permitiu, entrou distraído, desligado da montada, enfim…outro manso. O cavaleiro iniciou cravando dois compridos, sendo o primeiro em sorte carregada e o segundo em sorte à tira perante um toiro que investia de rompante e desligava de imediato. Rui ajusta a montada para entrar na série de curtos e numa brega esforçada com bonitos ladeios colocou-o, e num cite de praça a praça encurtou terrenos para cravar após um quiebro. Seguem-se mais dois ferros em terrenos de compromisso porque de outra forma não haveria investida, mas o cavaleiro a saber como bem fazer. Ajusta de novo a montada para cravar mais dois ferros, com destaque para o quinto em que fez várias tentativas para se colocar em sorte até sacar investida e deixar um ferro de palmo.
A segunda lide não andou longe da primeira, Rui esteve por cima do toiro. Tocou-lhe neste lote um toiro cornibajo, preto de 485kg de peso, que no primeiro comprido citado de praça a praça, resolve desligar-se da sorte e desviar a trajectória, não fora a experiência do cavaleiro da Caparica, daria mau resultado. Ao segundo comprido estava identificado mais um manso, sem alegria e sem prontidão, Rui pisou-lhe os terrenos e deixou um ferro sem resposta. Trocou a montada para os curtos da ordem, mas não conseguiu mais de três, ainda assim este cavaleiro não desilude e mesmo sem toiro esforçou-se para o fixar nos médios cravando de frente e de alto a baixo. Ao segundo ferro sacou-lhe um laivo de investida para cravar com precisão, e o último em sorte de violino animou esta lide trabalhosa.
Gilberto Filipe teve duas lides animadas, em que o cavaleiro andou ágil e desenvolto sabendo entender bem os oponentes. Recebeu numa lide brindada aos apoderados Sr. Albino Caçoete e Sr. António Manuel Barata Gomes, o seu primeiro, um toiro preto com 480 kg e o nº 56 na espádua. Desde logo nos compridos se percebeu que o cavaleiro tinha por diante mais um manso. Gilberto investiu na brega na tentativa de o abrir com os dois compridos, mas o toiro estava pouco colaborante. Ajustada a montada à sorte de bandarilhas, o cavaleiro brega oferendo a garupa para o colocar nos médios onde em sorte frontal crava ao estribo um ferro correcto. De seguida crava dois ferros com verdade após suadas bregas para arrancar este sonso de tábuas. Em jeito que quem o entendeu, e somado à arte de bem montar o cavaleiro desenha uma sorte de violino que rapidamente chegou às bancadas, com o publico a pedir outro ferro, Gilberto subiu a bitola e deixa um vistoso ferro de palmo. A encerrar a lide tempo ainda para uma última sorte desenhada no sentido da crença com uma cravagem sem reparos.
Na lide do último a abandonar o curro, o cavaleiro esteve em maior destaque. Tocou-lhe em sorte um preto, de 440kg ligeiramente veleto a sair assustado. Gilberto brinda à praça e inicia a lide com três compridos, merecendo maior destaque o terceiro. Ajusta a montada para inaugurar a ferragem curta embora tendo por diante mais um cuatreño que vira a cara à luta. O cavaleiro da casaca azul e ouro, trabalhou na brega e se trabalhou na brega… para colocar o oponente nos médios e sacar alguns rasgos de investida que lhe permitiram cravar ao estribo três ferros em sorte frontal em quarteios bem definidos. A verdade deste toureio, estava na reacção do público que desde logo aqueceu e se prendeu. Gilberto deixou ainda mais três ferros, um à tira bem calculado e com muita vibração, o quinto ferro a sair vistoso citado de meia praça e um sexto com o toiro a arrancar-se em velocidade mas a não surpreender o cavaleiro que o leu e com destreza se acoplou na sorte e cravando no alto da cruz.
As véstias das ramagens saíram à praça representadas pelos GFA’s do Montijo e Alcochete, dois grupos em que a competição está inerente à sua história, embora de forma salutar e em jeitos de quem está ali para o mesmo.
A antiguidade dita regras, assim abriram os do Montijo por Hélio Lopes, o forcado perfilou-se e dando distâncias citou sem hesitações, mandou e desde logo o toiro se arrancou. Recuou bem, e encaixou num toiro a ensarilhar, ainda que sem complicar permitindo ao forcado fechar-se à barbela até receber os companheiros.
Para o primeiro de Alcochete o Vasco mandou para a cara António Cardoso, o jovem forcado viria a brindar a sua pega a outro António, mas António Pinto, o pai do cabo. Esteve bem em todos os tempos da pega, mas concretizou apenas à segunda dado que na primeira o toiro baixou a cara e levando o forcado pelo chão tirou-o. Ao segundo intento o António alegrou-o, e carregou para depois recuar e no tempo certo recebê-lo à barbela, com o grupo a concretizar.
Ao terceiro da tarde foi Ricardo Parracho, que viria a pegar igualmente à segunda tentativa um toiro em velocidade mas moderado de forças. Ricardo citou de largo e sereno, a dar vantagens recuou depois uns passitos reunindo à barbela, aguentou alguns derrotes com o toiro a fugir ao grupo, mas este a emendar bem.
Tomás Torre do Vale foi para o quarto, e pegou um toiro inteiro. A audácia à flor da pele, não é mais do que a a frieza de quem sabe o que lá vem. Esteve bem a citar, mandou no momento correcto e assim que o sentiu pregou-se à barbela, de seguida o grupo ajudou coeso com mérito também para o rabejador.
A quinta acabava por não se concretizar após uma pluralidade de tentativas mal sucedidas.
A derradeira esteve a cargo de Tiago Domingos, que se fardou no GFA de Alcochete pela 1ª vez em 2010. O forcado cresceu para o toiro decidido, executou uma pega vistosa, fechado-se à barbela e aguentando alguns derrotes, com oportunas entradas dos ajudas.
Ana Paula Delgadinho