Tenho quase a certeza absoluta que foram muitos os que pensaram que a corrida de ontem é que, afinal, ia ser a grande corrida da feira de Alcochete.
As expectativas vieram a arrastar-se: no concurso de ganadarias nenhum toiro nos encheu as medidas e na terça os Passanha saíram broncos. Restava quinta-feira com os Castro…
A bravura dos Fernandes de Castro deixam-nos «de pelos en punta»! Características ímpares! São a prova dos nove e tanto podem oferecer triunfos inesquecíveis como deixar um sabor amargo de boca.
Se Alcochete é a terra mais aficionada, o cartel de quinta-feira só podia encher a casa. E, bingo! Foi mesmo assim!
O primeito toiro teve mérito de volta à arena com os cabrestos e sonoro aplauso na despedida. Um bravo, que, para os apaixonados do «toiro-toiro», cumpriu com todos os chavões. A arrancar-se de largo, a empregar-se nas reuniões, sempre fixo no cavalo e a rematar as sortes com alegria, foi um toiro de bandeira!
E a lide de Luís Rouxinol cumpriu à altura e com nota máxima. Um sonoro triunfo do cavaleiro de Pegões que usou dos pergaminhos para agitar as águas. Entendeu o toiro na perfeição. Citou-o de frente, aguentando o cite para dar vantagem à investida e recebendo debaixo do braço na reunião encastada. Os últimos curtos, de frente, citou o toiro da porta dos curros a favor da querença e meteu, por fim, o público no bolso com um de palmo e um par de adorno!
Na segunda metade da corrida, tocou-lhe lidar um oponente muito diferente do primeiro. Saiu a medir e apalpar mas foi abrindo e crescendo com a lide, para o que contribuiu mais uma boa interpretação de Luís Rouxinol, que selou a passagem por Alcochete com a marca de triunfo.
Francisco Palha lidou o segundo da ordem. Este foi um dos mais complicados da noite. Sem se empregar, circulou mais «pegajoso», andarilho e distraído. Com muito bom empenho do ginete, para lhe «dar cova» na brega e nas sortes, a actuação decorreu em plano de regularidade. Na segunda parte, voltou a não ter sorte. O toiro que lhe havia cabido em sorteio lesionou-se e foi recolhido depois do primeiro ferro. A empresa e o ganadero acabaram por oferecer o sobrero e trocou-se a ordem de lide. O ginete, toureou assim o último da noite. Diferente de tipo, este último toiro da divisa de Fernandes de Castro era um enraçado que pedia contas. Embora o cavaleiro tenha concretizado pormenores interessantes, falhou vários ferros e o bom ofício saiu prejudicado pela falta de «pontaria».
O colombiano Jacobo Botero está a construir uma carreira que ainda vai «no adro». O que não lhe podemos negar é que arrisca e dá o mais que pode para nos conquistar o coração. A ganadaria Fernandes de Castro é uma ganadaria dura e se as coisas não lhe correram tão de feição desta vez, não é por isso que lhe tiramos o mérito. Esteve em bom plano frente ao primeiro – um toiro que humilhava até ao impossível e rematava com um estranho, enraçado e encastado. Os ferros não ficaram no morrilho e o público acabou por aplaudir em tom de graça o último que ficou no alto da cruz! Frente ao que acabou por ser o quinto toiro, esteve em plano de regularidade. O jovem optou por se desafiar num tom sóbrio e concretizar uma lide em tom mais austero do que lhe é habitual.
Mas a noite também era dos forcados.
O Aposento do Barrete Verde de Alcochete a comemorar mais um importante aniversário da sua fundação, atravessa um momento de grande popularidade e prestígio, mercê das espectaculares pegas de que toda a gente tem falado.
A dicotomia Castros / Barrete Verde era, sem duvida alguma, outro dos grandes argumentos que levaram gente à praça.
Rui Gomes abriu praça. O toiro saiu para o forcado a apalpar e este esteve muito bem a recuar, mandando e fechando com decisão. Aguentou a viagem com derrotes até tábuas e, com toiro a fugir ao grupo, concretizaram vistosa pega ao primeiro intento.
César Nunes viu o toiro sair solto e frenar na reunião, acabando por recebê-lo mal. À segunda tentativa fechou-se com garra mas os fortes derrotes laterais e o peso das ajudas acabaram por tirá-lo da cara. Na dobra Gonçalo Figueiredo encontrou alguma dificuldade no momento da reunião e não concretizou à terceira. À quarta o toiro meteu a cara no chão e a reunião foi difícil mas a raça e garra do forcado foram maiores e concretizou com decisão.
João Salvação trancou-se à córnea e aguentou uma viagem dura, com derrotes e a fugir ao grupo, que consumou uma pega difícil e bonita à primeira tentativa.
Marcelo Lóia é o nome da temporada e um forcado de «mão cheia». Concretizou uma pega tecnicamente perfeita frente a um exemplar que cresceu a impor-se na viagem. Com uma oportuna ajuda de João Salvação, o forcado consumou à primeira.
Daniel Santiago atravessa um excelente momento e tem acompanhado o cabo na sequência de pegas memoráveis desta formação alcochetana. Esteve enorme a receber o toiro e a aguentar a viagem alta do oponente.
Diogo Amaro recebeu bem mas acabou por sair num dos fortíssimo derrotes laterais que o último Castro imprimia. Numa colhida terrível ficou inanimado e foi dobrado pelo irmão Bruno Amaro. Cheio de raça, o forcado concretizou à terceira uma pega rija frente frente ao último da noite.
Sara Teles