A praça de Samora Correia estava quase cheia. De um lado o encarnado quente dos coletes dos campinos, do outro um rosa choque de uma animada tertúlia que animou todos os pedaços de festa da noite. A praça estava cheia de cor mas não estava preparada para “as penas” que ali vinham! E é bem verdade que todos suaram e penaram nesta noite.
O curro de Assunção Coimbra não foi pêra doce… Toiros duros, bruscos, com muito sentido e ásperos, que aprendiam o caminho às primeiras passagens e que iam fazendo temer o pior a cada momento…
Sónia Matias abriu a noite. Se é verdade que teve o grande mérito de fazer parecer fácil o que não era, verdade é também que a cavaleira não recebeu da bancada o espelho que merecia. O primeiro toiro revelou sentido e logo ao segundo comprido começou a cortar caminho, valendo um grande toque à garupa. Sónia Matias soube estar por cima e ao invés de querer mostrar as dificuldades que lhe foram oferecidas quis agradar o público com o seu toureio alegre e ritmado numa lide agradável. Pena de facto que o público só tenha reagido “em festa” com os últimos palmo e violino, que como os demais foram bem executados.
Ana Baptista foi protagonista dos momentos mais dramáticos. Andarilho e a comer terreno, o toiro saíu para a brega com muita chispa e colheu a cavaleira contra as trincheiras, deixando-a visivelmente magoada. Sem conceder, regressou para os curtos concentrada e desenvolta, cumprindo a ferragem sempre com o toiro disposto a colher e comprometer a montada. Ao segundo curto o director ainda não lhe tinha concedido música e Ana Baptista aproximou-se da inteligência para perguntar “não tenho mérito senhor director?”. O director respondeu com o lenço branco no ferro seguinte… (Palavras para quê?).
A lide de Pedro Salvador também começou com perigo, frente a um Assunção Coimbra que aparentava defeitos de visão. Ao terceiro comprido o toiro atravessou-se e colheu também a montada com violência. O ginete entendeu e passou a citar o toiro mais a curto, cravou o primeiro de frente e o segundo ao piton contrário a agradar o conclave, embora sem uma boa reunião. Conseguiu ainda um ferro de impacto depois de passar duas vezes em falso e fechou com um ferro à tira, sem que o resultado final tenha sido o mais harmonioso.
Filipe Gonçalves foi o aplaudido vencedor do troféu para melhor lide em disputa. Conjugou alegria e comunicação com a bancada com adorno e com bons ferros, frente a um exemplar que pedia contas e que não dava espaço para erros. Regular nos compridos e muito bem nos três curtos a andar de frente -terminou com um par de bandarilhas “ensu sítio” que reuniram unanimidade no aplauso entre as bancadas.
O praticante Nelson Limas esteve muito regular esta noite e não deixou acusar a “pouca rodagem”. Animou o público com a brega com que ligou parte dos ferros, mostrou variedade nas sortes de frente, à tira e piton contrário, e, embora também tenha recebido toque na montada e os ferros tenham resultado um pouco aliviados, andou asseado frente a um oponente que tinha as suas complicações.
Verónica Cabaço não esteve em bom plano esta noite, acusando talvez a pressão do curro complicado que tinha visto lidar. Com os ferros espalhados, alguma precipitação e demasiada pressa, a praticante não foi nada daquilo que já tantas vezes mostrou ser capaz. Ainda assim, cumpriu a ferragem sem abreviar, sendo melhores os três últimos ferros.
O comportamento dos Assunção Coimbra nas lides a cavalo, manifestou-se igualmente nas pegas nada fáceis que se consumaram esta noite pelos Amadores de Alcochete e Aposento da Moita.
Pelos Amadores deAlcochete pegou à primeira João Gonçalves, que ficou decidido na córnea apesar de o toiro ter entrado só com um piton.
Pedro Viegas concretizou a pega da noite, justíssima vencedora do prémio em disputa. Não se precipitou perante a investida ensarilhada do toiro e segurou a córnea para aguentar a viagem por alto e com derrotes, a que o grupo correspondeu eficaz.
Tiago Domingos vinha correcto à barbela na primeira tentativa, mas não conseguiu manter-se, mercê da trajectória áspera a empurra-lo para baixo. Com vontade férrea aguentou a viagem com o toiro a bater para cima, até o grupo fechar para encerrar a noite em grande plano.
O Aposento da Moita abriu função a pegar o toiro mais complicado do curro. José Henriques não estava em “noite sua” e não conseguiu dar volta à reunião dura do exemplar nas quatro primeiras tentativas. À quinta (e nem assim menos violenta) concretizou com a ajuda carregada.
José Maria Bettencourt foi protagonista de uma primeira tentativa violenta, em que o oponente o tirou da cara na reunião menos conseguida. Repetiu com grande mérito na segunda tentativa, em que se viu o toiro a entrar pelo grupo que não desfez a blindagem.
Nuno Inácio resolveu à primeira a investida incerta do toiro, fechando a noite difícil para o Aposento, com uma pega limpa e correcta.
Sara Teles