Um pouco por todo o lado, e de formas muito distintas temos vindo a assistir ao realizar de acções em prol das Associações de Bombeiros, ou até da própria Liga. Naturalmente, a tauromaquia também tem sido sensível a este tema e em beneficio das condições de trabalho dos homens e mulheres da farda vermelha, que respondem em auxilio de todos, na Arena D’Évora pudemos assistir a um espectáculo dedicado aos Bombeiros da terra.
A corrida foi “exclusiva” e merecedora de meia casa mal medida. Os toiros de José Luis Pereda-La Dehesilla que viajaram desde Rosal de la Frontera para esta vespertina, na generalidade saíram bem rematados de carnes e encastados proporcionando um espectáculo entretido.
Manda a antiguidade e António Ribeiro Telles abriu praça. Esteve bem o Maestro, na lide de um toiro preto listão com 470kg, que entrou andarilho. Deixou-lhe três compridos à tira fixando-o nos médios de onde o oponente se arrancava com prontidão para a investida, mas o cavaleiro a saber-lhe ler as “ideias” e a cravar em reuniões bem medidas. Nos curtos António soube tirar partido deste nº75 com mobilidade e sentido na montada, e deixou o primeiro em sorte frontal. A lide prosseguiu alegre, Graças à destreza do cavaleiro perante um toiro que respondia perseguindo e entrava na luta. Nos três ferros seguintes assistimos a bregas vistosas que resultaram em sortes frontais, cravagens rigorosas e bem rematas, com especial destaque para o quarto ferro desta série. A encerrar a sua lide, António Telles ergue o tricórnio na mão direita e vence a batalha da brega para colocar nos médios este cinqueño que começa a dar sinais de desistir raspando, e citando de frente arranca para cravar com valor.
João Salgueiro, vestiu-se de castanho e ouro para receber um toiro preto de focinho estreito, cornicerrado a pesar 530kg. Seguido de um brinde aos empresários da Campo e Praça, o cavaleiro de Valada entrou com tudo e deixou três compridos citados de praça a praça, sendo o segundo e terceiro precedidos de um quiebro a anteceder a reunião para cravar com talento. De seguida, meus Senhores, foi o abrir do livro, João Salgueiro soube “bater-se” perante um toiro que entrava com a cara alta e colocou quatro excelentes ferros. Nos primeiros cita de largo a dar primazia e entra na sorte com muito saber, citando e mandando, mantém o toiro alegre e crava com rigor aquecendo as bancadas. Ao terceiro ferro, e após uma brega vistosa a instigar à perseguição coloca-o, entra na sorte e crava numa reunião cingida com o listão a entrar-lhe pela casaca. No último ferro esteve igualmente bem, oferendo a garupa na brega, rigoroso a fixá-lo citou de frente e deixou sem reprimendas, rematando com piruetas na cara do toiro.
A Rui Fernandes tocou-lhe um pigarço a acusar 460kg na balança e a entrar de mãos levantadas no capote do Belmonte. Rui não o sentiu nos dois compridos que cravou sem grande emoção, mas rapidamente este cavaleiro inverteu o sentido da lide e entrou nos curtos com grande entusiasmo. A dar sinais de vir a menos, o bisco desliga-se da montada exigindo que o cavaleiro lhe pisasse os terrenos para executar as sortes, assim foi nos dois primeiros curtos em que a investida tinha o seu quê de maldade, mas os ferros a saírem correctos. Ao terceiro curto, Rui suou na brega, o nº97 estava pouco colaborante na luta, ainda assim com muito mérito e depois de o fixar entrou na sorte e cravou um vistoso ferro. Ao quarto ferro optou por colocá-lo no sentido da crença e ainda assim comprometeu-se nos terrenos para sacar uma reunião notável e cravar de alto a baixo. Tempo ainda para um ajuste da montada, e dois últimos ferros em sortes adornadas com piruetas mas sem perder a verdade cravando de frente e animando as bancadas.
Vítor Ribeiro, que tem vindo em crescendo nesta temporada manteve a bitola lá em cima. O sorteio ditou a este cavaleiro natural de Almada, que haveria de lidar um toiro preto axiblanco com 555kg de peso. Dos curros saiu a berrar, coisa que os ganaderos não apreciam por ser um sinal de falta de interesse na luta, e não andou longe disso. Vítor iniciou a lide com três compridos, sendo o primeiro em sorte à tira, mantendo-se assertivo em todos os tempos das sortes e sem deixar espaço a criticas na cravagem. Quando muda de montada, e principia a sorte de bandarilhas encontra um bragado e meado a rachar-se. Esforçado na brega e perante a distracção do oponente o cavaleiro ainda consegue arrancar-lhe uma investida numa sorte frontal bem sucedida. Nos três ferros seguintes e em busca de uma actuação divertida perante um toiro já complicado, Vítor consegue colocá-lo e instigar à investida em reuniões perfeitas e cravagem com galhardia, com especial enfoque para o último ferro que causou grande vibração.
Gilberto Filipe este cavaleiro tem vindo a conquistar aos poucos um lugar cimeiro, tem-nos deixado sempre curiosos pela sua próxima actuação, mas desta vez saiu-lhe a fava, e que fava!
Que castanho albardado mais desinteressado, era sobretudo perigoso… 540kg de maldade que não permitiram ao cavaleiro brilhar numa lide brindada ao bombeiros. Desde logo, este quatreño se denunciou distraído e sem interesse na luta, Gilberto muito brigou para o colocar em sorte, ainda assim deixou três compridos correctos. Nos curtos, pouco mais haveria a fazer após todas as tentativas do cavaleiro do Montijo em desenhar sortes dignas, quando tinha por diante um toiro que se arrancava apenas quando pressentia a colhida, a solução era arriscar tudo e entrar em terrenos de compromisso, assim foram as três ferragens curtas que deixou sem lugar a reprimendas.
Um Telles abriu e outro fechou, João Telles Jr. recebeu com bonitos recortes no centro do ruedo um toiro preto com 490kg, bragado e meano. Deixou dois ferros compridos como que a medi-lo, sendo o segundo em sorte à tira. O cavaleiro benjamim da Torrinha iniciou a ferragem curta com uma sorte frontal tendo o oponente respondido com prontidão. De seguida “ensaia” nova sorte frontal com um quiebro a anteceder a reunião, e parte para três ferros finais depois de ajustar a montada. João entra para o quarto ferro trabalhando na brega com bonitos ladeios e enchendo a praça, cita, manda e crava com acerto. Dos últimos ferros destaca-se o quinto brindado aos apoderados Sr. Albino Caçoete e Sr. António Manuel Barata Gomes, com o toiro a querer fechar-se em tábuas e o cavaleiro a partir para ele sem vislumbrar a saída.
As jaquetas das ramagens faziam-se representar pelos moços de Évora e Alcochete, liderados por António Alfacinha e Vasco Pinto, respectivamente.
À cara do primeiro o cabo mandou Ricardo Casas Novas, que após brindar se alinhou para citar com classe, mandou, carregou e em ligeiro desiquilíbrio o forcado reuniu à córnea vencendo o ensarilhar do opositor. Foi merecida a volta à praça do primeiro ajuda, que apesar de não se ter fixado, encostou o cara deixando a sobra para os “segundas” concretizarem.
Saltou para o segundo Fernando Quintela, que brindou mais uma pega concretizada à primeira aos companheiros do GFA de Évora. Citou determinado, como é seu timbre, recuou correcto e no momento exacto, reuniu fechando-se perfeito de braços e pernas enchendo-lhe a cara, e cravado à barbela aguentou um derrote valente antes do grupo concluir sem emendas.
Ao terceiro toiro da tarde foi Ricardo Sousa, consumou à terceira tentativa uma pega difícil ante um toiro a derrotar com violência mal sentia o forcado na cara. A seriedade destes rapazes não lhes permite desistir e o Ricardo encurtou distâncias o grupo carregou as ajudas e a pega consumou-se com muito mérito das “primeiras” que o mantiveram aguardando confiantes pelos restantes seis.
O escolhido para o quarto toiro foi Diogo Timóteo, brinda à praça aquele que viria a ser um pegão.
À segunda tentativa é certo, mas não se lhe tira o mérito, saiu-se artista para o toiro, mostrou-se, alegrou-o, mandou e recuou diante de uma investida pronta com reunião violenta a entrar pelo grupo que rapidamente se emendou, concluindo com o brio que lhes é inato. Também esta pega foi merecedora de trazer o primeiro ajuda na volta à praça.
Ao quinto da tarde o cabo confiou Dinis Caeiro, que esteve forte perante um toiro inteiro que proporciounou de tudo, reuniões violentas, derrotes fortíssimos…enfim, um mal intencionado à séria. As forças não se podem medir, mas a valentia, a coragem do Dinis e a dignidade dos seus companheiros dobraram este toiro pegando-o, não esquecendo o rabejador que cumprindo o seu papel lhe tirou o apoio e distribuiu as forças.
Para o último o Vasco elegeu Pedro Viegas, que a fechar uma corrida dedicada aos bombeiros, procurou os bonés vermelhos na trincheira e brindou a sua pega. Perfilado o grupo, mal o forcado cita o toiro arranca na sua linha e sem complicar o Pedro encaixou-se decidido e fechado à barbela viajou até que o grupo entrasse às devidas posições e consumasse.
Ana Paula Delgadinho
