Devido a doença prolongada morreu uma das penas mais importantes do panorama taurino Português, João Critovão Moreira, mais conhecido por “Solilóquio”.
Sobre este grande reproduzimos este texto da autoria de Alberto Franco.
Há familia enlutada e amigos prestamos os mais sentidos pêsamos.
“(…) Nascido em Lisboa, João Cristóvão Moreira exerceu ao longo da sua vida funções diversificadas: foi comandante de Marinha, director-geral do Comércio, secretário de Estado da Descolonização e da Integração Administrativa, director de serviços da companhia de seguros Tranquilidade, administrador da Empresa Pública dos Jornais Notícias e Capital e director-adjunto da revista «Negócios». Fez crítica taurina no «Diário de Lisboa» e no «Diário de Notícias» e colaborou na revista «Novo Burladero». As suas últimas crónicas reportam-se à temporada de 2000 e encontram-se no livro «O Corte da Coleta» (2003). Porque Solilóquio não se limitava a publicar as suas crónicas nas colunas dos jornais. Pontualmente, no início de cada ano, editava um livro com as crónicas da temporada anterior. Entre 1965 e 2003, deu à estampa 33 preciosos volumes, com títulos que são quase sempre um achado de graça e engenho: «Broncas e Olés», «Toca a Música», «Touros e Portarias», «Até ao Rabo é Touro», «Memórias de um Bilhete de Sol», «Farpas e Barretes», «No País das Touradas», «Os Clarins da Esperança», «Tércio de Quites»… Solilóquio publicou ainda uma sentida biografia do diestro José Falcão, que se espera que a Câmara de Vila Franca reedite um dia, e os livros «Coração não tem Cor» e «Uma Vela na Escuridão».
O seu primeiro livro, «Ao Sol da Ibéria», compilação de crónicas que vão de 1948 a 1964, foi uma pedrada no charco morno do mundillo taurino português. Com uma mão cheia de textos inovadores, de uma acutilância e qualidade literária que apenas encontra precedente nos escritos de outro grande cronista, D. Bernardo Mesquitela, Solilóquio veio demonstrar que a crítica taurina podia ultrapassar os gastos clichés que então se usavam. Das rísiveis peculiares da corrida à portuguesa (o embolado e o afeitado, a chateza do intervalo e os cabrestos, a morte simulada e a voltinha à arena) extraiu irónicos apontamentos e, muitas vezes, a beleza que na praça não se viu. Admirador de João Núncio e dos toureiros de arte, como Rafael de Paula e Curro Romero, Solilóquio sempre se manteve arredado dos mentideros taurinos e das suas tantas vezes nefastas cumplicidades. Por isso deixou na Festa um rasto de dignidade e maestria difícil de igualar. “