Mourão foi brindado com um bonito céu azul e tarde amena. Quando os foguetes estalaram estava a praça à cunha a contrastar com a alvura da alvenaria. Uma estampa para a vista. Abriu a temporada e foi um início auspicioso.
Vimos um curro heterogéneo de tamanho, variadas pelagens e córneas mas com um braço comum de comportamento. Nobreza e “toureabilidade” foram as palavras de ordem da divisa de Murteira Grave.
Duarte Pinto foi o primeiríssimo do ano. Com o zelo e o brio que lhe parecem inatos, desenhou uma lide plena de ortodoxia. O bom labor do ginete fez com que os primeiros acordes da temporada não tenham demorado a soar e, ao segundo curto, já o lenço branco de Agostinho Borges era exibido. O novilho-toiro que lhe tocou em sorteio, embora bem apresentado e disponível para a luta, pecou pela pouca transmissão a acudir aos cites e nos remates.
A simpatia de Joana Andrade encheu a tarde com notas de jovialidade. O castanho gravito que lhe tocou saiu enraçado e alegre e quase comprometeu a montada na recepção à pequena arena de Mourão. Cravou com solvência os compridos à moda espanhola e os primeiros curtos com eficiência. O maior regozijo para o público alentejano veio com o violino e as duas rosas com que terminou uma lide empenhada e correcta frente a um pronto exemplar que cumpriu sem se esgotar.
Pelo Real Grupo de Forcados Amadores de Moura abriu praça e temporada Carlos Mestre à primeira tentativa eficazmente ajudado pelas terceiras. Executou também ao primeiro intento o forcado João Caeiro em pega limpa.
Para o toureio apeado houve matéria-prima muito distinta para cada uma das lides.
Antonio Ferrera abriria com o mais pequeno da tarde. O castanho cumpriu e foi belíssima matéria para a muleta de Ferrera. Abriu com duas largas cambiadas de joelhos, verónicas e chicuelinas seguras. O tércio de bandarilhas em que é exímio, foi pleno. O melhor seria na muleta em que extraiu do exemplar todo o sumo. Nobre, a repetir a gosto, o Grave acedeu até ao fim à profundidade a que a flanela o levava. Foi de facto, uma bonita faena!
Já David Mora não encontrou a mesma nobreza no que lhe tocou em sorte. Foram as verónicas como pinceladas o melhor desta faena, que não se alongou em demasia. Evitando sempre o engano, saia a meia altura sem se empregar nem se entregar aos esforçados labores do espada.
Nuno Casquinha carregava a responsabilidade de trazer a Portugal as mesmas notícias que se têm ouvido do Peru. Alguma inquietude e a aspereza do Grave impediram que a tarde se selasse da melhor maneira. Desenhou bem as verónicas com que se apresentou de capote e teve depois algum desacerto nas bandarilhas executadas pelos subalternos. Procurou sacar o melhor do exemplar em terrenos de fora e logrou bom efeito em duas séries de derechazos mas faltou o lio a que o novilho se furtou.
Na verdade, a primeira tarde da temporada foi mesmo de Juanito. João Silva faz 15 anos no próximo mês de Março. Apresentou-se com um ar tão determinado quanto a sua atitude se revelou. Recebeu o excelente novilho por verónicas bem executadas. Confiante no bom labor, perdeu o engano nas chicuelinas vistosas com que já impressionava. Depressa se levantou. Na muleta viria de menos a mais. Rigoroso nas primeiras passagens, foi-se apercebendo das qualidades do novilho para ir confiando cada vez mais, dando-se abertura a mais dois ou três momentos de aflição. Conquistou as bancadas pela destemida jovialidade e mostrou bons modos, variedade das sortes e argumentos. Um bom mote para uma auspiciosa temporada.
Sara Teles