Este ano o Dia de Portugal foi celebrado de modo invulgar. A tradicional corrida do dia 10 de Junho, inserida na 54ª Feira Nacional da Agricultura que tem lugar em Santarém, contou com a presença de 3 figuras de toureio espanholas. Uma corrida mista com um cartel bem rematado. Diego Ventura no rejoneio e Morante de La Puebla e El Juli no toureio a pé.
A tarde estava solarenga e os aficionados preencheram meia casa forte, a empresa merecia que se tivesse registado uma entrada mais forte depois de uma aposta deste risco. As pegas estiveram a cabo do grupo da terra, o grupo de Forcados Amadores de Santarém.
Em praça Diego com o “Lambrusco” recebeu o toiro de Guiomar Cortes Moura de 580 kg, estando bem na ferragem comprida. Com os característicos ladeares, levando o toiro ao estribo. Por sua parte, o toiro teve o comportamento adequado ao que Diego pretendia, uma autêntica taurina. É na ferragem curta que Diego “incendeia” as bancadas. Com bonitos recortes na cara do toiro, sempre com sentido de distâncias e terrenos. Fechou a lide com “Remate”, que como o nome diz, rematou cravando dois ferros de palmo em sorte de violino. Destaque para o 3º ferro curto com o cavalo “Fino”, cavalo dotado de uma alma imensa e coração de toureiro; aguentou na cara do toiro, transmitindo serenidade enquanto a ansiedade aumentava numa sorte frontal onde o toiro se tardou a investir e Ventura cravou a receber.
Para a pega, o forcado Francisco Graciosa, que depois de escorregar a recuar na primeira tentativa pegou à 3ª , demonstrando ainda alguma falta de experiência.
Seguia-se a parte do toureio a pé; a expectativa estava alta, afinal de contas, era tarde de Morante! Infelizmente e logo de início apareceram indícios de que não iríamos ter faena. Recebeu o seu oponente por entre verónicas. No entanto logo o público protestou (e bem) devido às excessivas intervenções dos bandarilheiros no capote. Ainda assim, Morante deu início ao tércio da muleta entre tábuas. Pela direita desenhou uma série de derechazos rematados com passe de peito. O toiro da divisa Nuñez del Cuvillo, com 490 kg ficava curto na viagem e tinha dificuldade em arredondar-se. Poucos minutos depois, e sem grande esforço, Morante estava pronto para terminar a lide. Sem nenhuma passagem pela esquerda, foi buscar a bandarilha e simulou a estocada.
Em praça estava El Juli para lidar o 3º da tarde; toiro de Garcigrande com 450 kg. Podemos dizer que perdeu quem não esteve presente. Porém, verifica-se ainda a falta do tércio da sorte de varas nas lides do toureio apeado. Juli conseguiu “sacar” a faena da tarde! Não foi surpresa para muitos o que este génio do toureio (muitas vezes subestimado) fez em praça. Uma lide excepcional desde a entrega no capote, recebendo o hastado por bonitas verónicas e chicuelinas. Com a muleta arrancou “olés” das bancadas. Com boas séries de muletazos, numa faena completa, harmoniosa, conseguindo levar o toiro redondo e deixando-o no sítio. O público estava em êxtase e Juli conseguiu fazer arte através da sua sabedoria e técnica.
Na segunda parte da corrida, Ventura recebeu o segundo toiro de Maria Guiomar Cortes Moura com 550kg. Um toiro que pouco transmitia e acabou por reservar-se junto a tábuas; porém, com a quadra de Ventura só ele podia dar a volta à situação. Cravou a ferragem curta em terrenos duvidosos que resultaram brilhantemente. Finalizou com “Dólar”, cravando um par de bandarilhas apoteótico, uma vez que o fez sem as ajudas da embocadura da cabeçada. Pegou o forcado Luís Seabra ao primeiro intento.
Morante saía à arena para receber o Nuñez del Cuvillo com 495 kg. Se no primeiro, o maestro não encontrou inspiração, no segundo não foi diferente; porém, para quem esteve com atenção e é apreciador do toureio apeado, não podemos negar os (poucos) momentos de excelência e técnica do maestro. Não é à toa que Morante marca a história da tauromaquia e, não tendo nada a provar, deixou que os bandarilheiros fizessem o seu papel no quite de capote, resultando em protesto por parte dos aficionados. Na faena com a muleta, pouco a apontar, duas boas séries de derechazos que entusiasmaram as bancadas, mas que logo desvaneceu.
Para Juli estava reservado o manso da tarde. Toiro de Garcigrande com 490kg que logo cedo demonstrou sinais de mansidão. Toiro andarilho e distraído. Destapando-se da muleta sempre que podia. Sem investida franca e até chegou a virar costas à muleta do diestro. Quando este se fechou em tábuas e a faena já parecia perdida, eis que Juli, uma vez mais, consegue “sacar” toiro onde ele não existe. Consegue duas boas séries de derechazos com belo remate de peito. No entanto, com o hastado sempre a fugir ao engano, Juli percorreu cerca de meia praça, tentanto sacar mais uma ou outra tanda. Esforçado e empenhado conseguiu mostrar a sua franqueza e humildade numa lide que todos consideravam perdida.
Juli teria sido um justo candidato à saída em ombros; porém parece que portas grandes só na capital e para isso, talvez seja necessário dar um pouco mais de “espetáculo”.
Denise Coelho
