Grão a grão a galinha enche o papo; passo a passo se vai longe; uma grande viagem começa com um pequeno passo… A sabedoria popular tem muitas maneiras de dizer que a persistência de uma boa ideia faz de uma boa ideia uma ideia em grande. Morante De La Puebla teve uma boa ideia, avançou com ela para projecto efectivo há quatro anos e foi neste quarto ano que se viu bem como, não só a ideia era boa, como já está em grande.
O quarto encierro de San Sebastian, na Puebla Del Rio, foi, este ano, consagrado como grande evento taurino que não deixará de ser assinalado em cada vez mais calendários e agendas do mundo do touro.
Não são os touros soltos na Calle Larga ou a novilhada da tarde de festa, nem a procissão só por si, que fazem deste encierro algo especial. Especial é o seu promotor, isso já nós sabemos, mas a festa em si, nas ruas, é cativante. O ambiente da largada é intenso e permite que se viva numa escala mini o que se passa em Pamplona, o que para quem venha de Portugal aos arredores de Sevilha é deveras interessante.
Mas o tesouro maior da iniciativa promovida pelo Maestro de la Puebla, é criação de afición e divulgação do mundo taurino, ao mesmo tempo que coloca no mapa turístico uma terra bonita, muito pura e que vive virada para o Guadalquivir num registo tradicional e simples a dois passos da metrópole que é Sevilha.
Para gerar conhecimento taurino, Morante apostou num encierro infantil, em que os touros são tourinhas de vários tamanhos e perseguem os miúdos pelo mesmo percurso que os touros a sério farão mais tarde. A diversão culmina na praça de touros desmontável, que está pintada no exterior como se fosse a Real Maestranza, onde acaba por ser largada uma bezerra para animação com anões toureiros.
Este ano a novilhada da tarde do encierro foi protagonizada por um rejoneador e cinco espadas, nomeadamente, Pablo Domecq, com uma bonita actuação a cavalo; Rocío Romera, uma jovem com uma postura muy torera desde que se colocou com o novilho até o matar; Alejandro Adame, que se destacou nas bandarilhas; Mariano Fernandez, que não logrou matar à primeira, mas esteve forte na muleta; El Niño de los Tendíos, que mostrou muita raça; e o bezerrista Manolo Luque, que frisou a vontade do seu sonho com todas as ganas.
Uma tarde de novilhada que não deixou ninguém incomodado por estar numa desmontável apinhada de gente, traduzida em muitos cotovelos e joelhos nos nossos assentos, pois é de sublinhar que quem ficou mais tempo na Paella oferecida no jardim, quase ficou sem lugar na praça, cujos bilhetes esgotaram ainda na véspera.
Sílvia Del Quema
