Gosto de corridas de toiros porque têm personalidade, arte, são belas e unem as pessoas. E é só isto que importa. O maior dos erros começa quando se separa a inteligência da liberdade no que diz respeito aos gostos de cada um, às paixões por alguma coisa. A independência continua muito interligada a preconceitos quando falamos de convicções.
Ainda gosto mais das pessoas que não têm problemas em assumir que também gostam de toiros, sem vergonha ou medo de reacções menos positivas, com a coragem de o dizer e defender, mostrando a sua afición, se assim lhes apetecer – será sempre este o princípio do futuro. Mesmo que aos outros, os que não concordam com as suas opiniões, lhe pareçam desagradáveis.
Isto a propósito da última Feria del Toro de Olivenza, que aconteceu no início deste mês, e onde foi apresentado um cartaz enorme com figuras importantes de várias áreas, desde o mundo artístico, intelectual, político, social, e no qual estas personalidades assumem, publicamente, o seu apoio à Festa.
E desde sempre, nas mais variadas áreas, gente houve que, como eu, como todos os que estão a ler esta crónica (espero), manifestaram o seu gosto pelos toiros publicamente.
Destaco, a propósito da sua paixão pelos toiros, Federico García Lorca: “El toreo es probablemente la riqueza poética y vital de España, increíblemente desaprovechada por los escritores y artistas, debido principalmente a una falsa educación pedagógica que nos han dado y que hemos sido los hombres de mi generación los primeros en rechazar. Creo que los toros es la fiesta más culta que hay en el mundo.”; E Hemingway: “El cielo sería para mí una plaza de toros con dos entradas vitalicias y un río de truchas al lado”.
Queria tanto ter sido eu a escrever estas palavras…
Assim de repente, lembro-me de mais umas quantas figuras internacionais: Alejandro Sanz, Dalí, Picasso, Iker Casillas, Pedro Almodovar, Carmen Sevilla, Feliciano López, Fonsi Nieto, Juan Carlos I, Infanta Elena, Mario Vargas Llosa, Madonna, Rosario Flores, Gabriel Garcia Márquez, Antonio Banderas, José Mercé, Duquesa de Alba, e muitos, muitos mais. E quem não viu já os famosos Capotazos do Sergio Ramos em pleno estádio cada vez que o Real Madrid ganha?
A importância de “dar a cara” e de ter como apoiantes figuras públicas é o exemplo vivo do que significa “não ter medo” em assumir uma convicção, uma paixão.
Não querendo ser lírica, idealista ou de alguma forma sindicalista, acredito nas pessoas, e mais, no que conseguem fazer quando se juntam. E bem sei que existem interesses, divisões, conflitos, mas, se pensarmos bem, concluímos facilmente que são problemas transversais a qualquer área de negócio, seja ela cultural, desportiva ou artística!
Outro lado interessante da festa, e nada desprezível, é a economia gerada pelo universo taurino, começando na criação do toiro bravo, passando pelos cavalos e tudo o que gira em seu redor, até chegar aos artistas. Para que cada espectáculo taurino aconteça existem inúmeros postos de trabalho assegurados, desde as bilheteiras, ao comércio directo, etc., ou seja, estamos a falar de um sem número de transacções que muito contam como geradoras de receitas.
E fico muito feliz ao ver que a Tauromaquia está a modernizar-se na forma de abordagem e divulgação da Festa. Tome-se como exemplo o vídeo de divulgação da Feria de Sevilla, cujo protagonista é Morante de La Puebla. Por cá também já se fazem coisas giras, como foi o Bullfest ou a apresentação dos cartéis e da nova temporada do Campo Pequeno. Formas diferentes e inovadoras de promover a Festa, plataformas recém-criadas cujo mérito e ousadia são inquestionáveis.
Quando queremos identificar a nossa cultura com uma simbologia que não nos divida, como sejam as diferenças na ideologia religiosa, política ou até mesmo desportiva, a Tauromaquia parece-me ser um dos únicos conceitos sociológicos que une Portugueses, Espanhóis, Franceses, Mexicanos, Colombianos etc. E é possível contornar ameaças e tempos menos favoráveis, veja-se o exemplo de Bogotá, que conseguiu que os toiros ali regressassem este ano, após um interregno de uns anos.
Nos toiros não importam fidalguias, direitas ou esquerdas, idades, pois a paixão é comum e estamos unidos por ela. E como taurinos que somos, temos de gritar sempre e de pulmões cheios: “Oleeeeeeeeeee!”
Quando os taurinos se unem, milagres acontecem.