Alguém chamou a tudo o que gosto e me define como “Agro-Betos”, estereótipos, valem o que valem.
Ora, as senhoras não dizem palavrões, e eu não digo nem um, mas como anglicismos estão super na moda, e dito em inglês a coisa fica mais suave até a roçar o chique e evoluído, e só por isso, inventei um novo termo para definir “algumas-criaturas-urbanas-que-nos-aborrecem-muito-e-não-percebem-nada-da-ruralidade”, os “Urban-Shit”, e não me parece que seja necessário ir ao tradutor do Google para perceber a idéia.
Também ouvi dizer que não se deve tocar em assuntos como política, touros e caça, futebol e religião, para “não levantar ondas”, e é aqui que está o problema, não queremos “ralações”!
Adoramos um despreocupado, irritante mas bom “deixa lá isso”. E a gravidade disto vai desde uma consulta que atrasa duas horas, chegando até á ausência de educação cívica, (se quisermos iniciar um temazinho mais profundo então, sai logo um “lá estás tu” ou o “não vale a pena” para cortar a conversa, e se formos meninas, pior ainda).
Ainda não perceberam que ser-se exigente não é ter-se o rei na barriga, é querer o melhor. E ralar, é coisa que não fazemos mesmo, com absolutamente nada!
E sim, estou completamente decepcionada com tudo, pelos números da abstenção, que é uma consequente crise de valores, de falta de pensamento crítico e de ideia de futuro. Que triste é ver um País que pára por causa da bola ou um bom festival de Verão – festa muita e sempre, gosto disso – mas não alinha pelos valores que quer para o seu País, para si!
Bolas, se até no futebol se comenta a resignação geral a que estamos confinados!
Relembro o que disse Bruno Lage no Marquês: “Não basta chamar nomes aos árbitros, aos treinadores, aos jogadores quando eles perdem e não correm. Se vocês tiverem a exigência que têm no futebol como nos outros aspectos do nosso Portugal, economia, educação, saúde, vamos ser um País melhor”.
Resolvi puxar pelo meu optimismo natural e acreditar que as pessoas gostam do bom e do certo quando está à sua frente, ainda assim, não consegui. Resta-me a paz e o orgulho de saber que a minha terra, Barrancos, foi a única que não deu um voto sequer a animalistas de meia tigela. Quiçá, resquícios de tempos em que sofremos na pele ataques á séria e termos sido forçados a tomar decisões e atitudes, muito boas por sinal! Não preciso sequer mencionar quem tanto trabalhou para que isto fosse possível, e sei que sou chata e repetitiva, mas ouvi dizer que os melhores imitam-se sempre! Que nunca percamos essa capacidade (sim, capacidade) e que possa servir de exemplo!
Mas que sentido faz, urbanos decidirem sobre coisas que desconhecem? Mas é isto que acontece.
O aumento visível do número de pessoas que transferem sentimentos (socialização, afectos) para animais (sim, transferem, não os partilham sequer), os tais que nos apartamentos substituem pessoas por cães e gatos, deu nisto, dar importância a partidecos cuja única finalidade é promover/ lamber botas, estilos de vida completamente urbanos. Nada contra, a não ser quando estas mesmas “entidades” para promoção dos seus ideais (ah… a liberdade de tudo e mais alguma coisa, dava para outra crónica de escárnio), entendem que se deve aniquilar tudo o que não está conforme os seus padrões.
E de repente são ambientalistas, encostando-se sorrateiramente ao Governo, quando o que defendem mesmo são as supostas minorias e géneros (tantos que já perdi a conta, ignoro e continuo em dois), ah e os animais deviam viver numa redoma na natureza, esses seres sagrados que só são vistos nos programas do National Geographic, e as plantas coitadinhas, como não fazem barulho nem se mexem já não têm direito a nada, já podem ser comidas por essa grande criatura que é o ser humano vegan!
Epá, isto, sai fora de tudo o que é razoável. E estes eram apenas uma moda, eram, e já têm esta força…
Mais, tome-se o exemplo na vizinha Espanha, o Secretário de Comunicação do partido Podemos, Juanma del Olmo, sobre a natureza das doações feitas por Amancio Ortega na área da saúde diz: ”¿Qué os parece que sea un millonario quién decida qué enfermedades y qué ciudades deben tener mejores tratamientos y recursos?”… é no mínimo, parvo tudo isto!
Quando este em 2017 já tinha doado, 47 milhões à Cataluña, 40 milhões à Andalucía, 30 milhões à Comunidade Valenciana e por aí fora! Confuso? Nem tanto.. Estes são os mesmos que em Abril passado, disseram que querem um referendo para a continuação ou não dos espectáculos taurinos em Espanha (afirmando claro que votariam contra). Já perceberam onde quero chegar certo? Mesmo que não sejam os mesmíssimos partidos, a urbanidade e soberba, estão lá!
E que dizer então quando são? Veja-se o resultado dos animalistas do PACMA na nossa vizinhança também.. propostas da treta, deu num resultado da treta, e ainda bem!!
Para os que ainda acham que política é uma coisa e mundo rural é outra, pensem duas vezes, ou três! E até Outubro passa a correr, e de esquerda ou de direita, pouco importa, mas acordem!
Depois e como se não bastasse, para além de tudo o resto, ainda vêm as tricas internas, porque um disse o que não devia, porque os outros o condenam em hasta pública..
Psiu, rapaziada, há conversas e “chamadas de atenção”, que podem e devem ser feitas num registo particular, caso contrário, é dar motivos de sobra de mão beijada a quem está “desejando” minar isto tudo! Onde fica a dignidade da Festa?
Acho que o sentimento nacional está a transferir-se da inveja para o “não-quero-saber”. Em tudo. Não falo só nos que se fazem ao piso e seguem a carneirada, ou os amigos que afinal só queriam qualquer coisinha. Mas funciona. Ainda mais na era do digital que criou uma geração egocêntrica e egoísta do vale tudo. Assim, todos sabem fotografar, escrever, toda a gente faz tudo e não faz nada. Vamos continuar assim?
Somos cada vez mais neste mundo taurino, quero acreditar nisto, era mesmo bom que os jovens de hoje, amanhã, o amassem melhor que nós.
E neste meu mundo fantástico do futuro, os “Agro-Betos” vencem e continuam a ir aos touros, porque sempre foram os bonzinhos, e os “Urban-Shit” os vilões!
Ester Tereno