Quase todos com cinco anos, peso e trapio – os toiros de Hato Blanco foram uma dor de cabeça. Reservados, a mansear, como muito poder e mobilidade nos arreões, precisavam de inspiração dos toureiros para que as coisas resultassem bem. Houve poucos momentos realmente bons nesta noite de meia casa, onde a chuva ainda fez uma onda de guarda-chuvas abrir-se nas bancadas da praça Alcochetana esta terça-feira…
Salgueiro da Costa brilhou e fez com que a noite valesse a pena. Esteve soberbo frente a um exemplar que não era melhor que os demais. De logo no segundo comprido, vindo o toiro de largo, gelou o conclave com um ferro brutal, fazendo sair a montada no último segundo do caminho que o toiro levava adiantando! A seguir só inspiração, sítio e sentimento… Excelente a dar cova ao toiro na brega e nos ferros em que acometeu carregando ao piton contrário, num belíssimo desenho! Uma excelente abordagem do cavaleiro, que lhe valeu destacar-se amplamente de tudo o demais que se passou nesta noite.
Mas também nas pegas houve momentos de verdadeira emoção…
Depois de assistirmos à primeira pega do Barrete Verde de Alcochete, em que Rui Gomes consumou à segunda depois de uma dificílima tentativa, com o toiro a empurrar para baixo com violência, tememos pelos mexicanos de Queretaro. Sem qualquer desprimor para os homens da jaqueta cinzenta, não deixámos de ponderar como haviam de entender-se com os comboios que os esperavam, porque convenhamos que não terão exactamente a mesma rodagem da nossa praça.
Foi por isso uma boa surpresa ver a grande pega de Alejandro Martinez, aguentando à barbela fortíssimos derrotes quer durante a viagem, quer com o toiro parado. Levantou a praça, que lhe exigiu uma segunda ida aos médios entre as emotivas lágrimas do forcado.
Seguiu-se com João Salvação outra pega de antologia. A primeira tentativa não podia ter sido mais dura, com o toiro a acometer com brutal violência no peito do cabo. Ao segundo intento, concretizou então a importante pega à córnea, a suportar derrotes tão fortes que sacudiam o grupo, fechado com coesão na cara.
De seguida passou-se o pior… O grupo de Queretaro, cuja coragem merece verdadeira exaltação. Tentou por seis vezes ficar na cara do exemplar que parecia aplicar todos os 605kg a bater em derrotes duríssimos, que foram mandando vários elementos do grupo à enfermaria. Foi “vivo” o toiro e o forcado não deu volta, mas foram de factos, seis tentativas impressionantes.
Pareceu fácil, de seguida, a pega de Marcelo Lóia consumada à primeira. O toiro empurrou o grupo até tábuas, mas o forcado vinha bem fechado à córnea e a ajuda coesa.
Por fim, já com poucos elementos do grupo entre as trincheiras, os Amadores de Queretaro dividiram a pega com os anfitriões do Barrete Verde de Alcochete, consumando correctamente à barbela, por Juan Leal, bem ajudada entre os dois grupos.
Nas outras lides a cavalo a noite foi por demais escassa de emoção.
Rui Salvador andou, como sempre, muito empenhado. Ficando com a montada comprometida nos primeiros ferros, viu-se forçado a aliviar um pouco o quarteio nos seguintes, chegando a entender-se apenas para o fim da lide com a investida ora dura ora a frenar do exemplar para sair em plano ascendente e ao agrado do público.
Repetimos sobre Sónia Matias que vai levando uma das melhores temporadas da sua carreira. Vê-se segura, concentrada e a crescer perante as dificuldades. Foi bem isso que aconteceu na noite de terça-feira. A cavaleira não se desligou do distraído exemplar de Hato Blanco e logrou dois ferros curtos muito bons antes de o toiro mansear definitivamente ao quarto ferro. Saiu, deixando, uma vez mais uma impressão muito positiva.
Gilberto Filipe não teve sorte com o mais pesado do curro de Hato Blanco. Imponente e sério, não se fez acompanhar de bom carácter. Investidas aos arreões, esperava muito e atravessava-se. O ginete do Montijo esteve correcto e cumpriu a ferragem com enlevo face à matéria-prima que ali tinha. Pena, contudo, que tenham ficado apenas a meio os dois pares que Gilberto tentou deixar ao fim e que, sem culpa do cavaleiro, acabaram por fazer com saísse em plano descendente.
Tomás Pinto esteve regular e não conseguiu romper esta noite. Foi à porta gaiola receber o exemplar, que se manteve distraído de princípio ao fim da lide. Em resumo, faltou na lide a transmissão que faltou no toiro. Terminou com o bom violino, com o toiro a reagir com muita pata na brega de remate, saindo assim com aplauso da bancada.
João Branco foi buscar o exemplar à porta gaiola mas não logrou obter um grande impacto. Este correcto, comunicou com o público e baseou a lide na ligação entre a brega e as sortes, rematadas com adornadas piruetas. Único reparo a apontar terá sido, quiçá, a alguma rapidez nas reuniões porque de resto andou em muito bom plano!
A terceira de Alcochete, foi mesmo dos homens que pegaram os comboios de Hato Blanco e de Salgueiro da Costa, garra e inspiração, a sobrar entre a escassez …
Sara Teles