Por ocasião da feira de todos os Santos, no Cartaxo tem lugar a já tradicional corrida de Toiros de encerramento da temporada. Este ano não foi excepção, e no feriado de 1 de Novembro assim se realizou com consentimento de S. Pedro mais uma festa de Toiros, cujo cartel antevia alguma competição entre uma selecção de cavaleiros com sangue na guelra, três grupos de Forcados em contenda por mais um troféu e um curro que se conhece por sério.
Abriu Francisco Cortes, um cavaleiro que persegue o espírito toureiro de seu pai, e que embora pouco praceado se tenha feito notar. Recebeu um toiro preto, listão, com 445kg que proporcionou uma lide de feição. Francisco esteve correcto na ferragem comprida, com o toiro a colaborar e assim o foi levando ligado à montada. Nos curtos o cavaleiro, manteve o “Cantiflas”, um cavalo com ferro Paim, que mostrou para além de figura, elasticidade e força em harmonia com a índole toureira. Nos dois primeiros esteve regular na cravagem, depois de algumas tentativas em trazer o toiro aos médios. O terceiro sim, merece destaque, o cavaleiro estremocense executa uma bonita brega e deixa um ferro algo largo mas en su sitio, com um remate aprazível a finalizar a sorte. Encerra a sua actuação com um ferro de palmo de boa nota, alegrando o pouco público presente.
Para Marco José, estava reservado também um preto, quatrenho, com 480kg que surpreendeu saindo com um rasgo directo ao cavaleiro, sem conhecer os peões de brega, colhendo com violência a montada contra as tábuas. Ainda assim, e a mostrar a sua entrega o jovem cavaleiro, arranca para os compridos com o toiro a apertar, e deixa três bons. Num toureio arrimado, o cavaleiro caldense revela alguma maturidade, não permitindo que a emoção tome conta da sua lide. Marco troca de montada e inicia uma série de quatro curtos, dos quais se salientam o segundo e terceiro em que bregou desenvolto trazendo o toiro aos terrenos do meio, onde cravou sem quarteio ante uma investida algo descomposta, dois ferros com expressão. A fechar a sua actuação, invade terrenos de compromisso, onde após uma brega vistosa concretiza, mas consente um empurrão que em desequilíbrio lhe provoca uma queda do cavalo, ainda que sem consequências de maior.
A Pedro Salvador, tocou-lhe em sorte o maior da tarde, um preto, corniabierto, com 530kg. A acusar algumas lacunas na compreensão, o cavaleiro não esteve inspirado nos compridos, deixando o primeiro desacaído e o segundo de execução mediana. No entanto, a não arriscar na escolha da montada, entra nos curtos com a estrela da quadra, “Solpinho”, e tenta impor o seu toureio “quebrado”, embora sem sucesso com o toiro a dar sinais de mansidão. Ajusta novamente a escolha do cavalo, e ao terceiro ferro consegue desenhar uma sorte que culmina a partir de um quiebro provocador, num ferro bem colocado e animador que lhe concede música. O quarto e quinto ferros, cravados com algumas passagens em falso e abrindo demasiadamente os quarteios, nada vêm acrescentar para além de alguns adornos equestres bem conseguidos.
Ao entardecer Tiago Carreiras entra em Praça para lidar um castanho albardado, ojinegro, com 485kg. Depois de deixar dois compridos regulares, o cavaleiro de Sousel, entende que tem um manso com condições de lide. Na série de curtos, Tiago divide os êxitos com “Quirino”, cravando os dois primeiros passados, rematados com ladeios e exagerada pompa em cima da montada. O terceiro ferro, fruto de um toureio encimista foi deixado por dentro sem margem para remate por parte do oponente. Numa lide esforçada, ainda que em adianto ao cavalo, foi solucionando de forma regrada, e pensada conseguindo desenhar duas bonitas sortes no quarto e quinto ferros, bregando, aguentando e executando em quarteio com o dever de bem rematar.
Não há quinto mau, e Marcelo Mendes comprovou. Mais um jovem cavaleiro a despontar no panorama taurino, e mais um na luta pelo triunfo nesta tarde de encerramento. Marcelo lidou outro toiro preto da Ganadaria Assunção Coimbra, com 475kg. Principiou a sua actuação com o “Celta”, cravando dois compridos, com o toiro a deixar nuances de bravura, humilhando. Em perfeita simbiose com os curtos, o cavaleiro opta pelo “Único” um cavalo russo, com ferro Álvaro Silva, que pede toiro. Da exagerada ferragem que deixou, há que realçar o segundo ferro com o cavalo a aguentar e a entrar correctamente no quarteio para cravar. No quarto dos curtos, assistiu-se igualmente a uma lide de valor com um claro momento de cara-a-cara entre o cavalo e o toiro colmatado com uma cravagem ao estribo, que chegou efusiva às bancadas. Para fechar, o cavaleiro que vinha impondo um toureio de ataque mostrando-se bem montado, quis deixar não um, mas dois pares de bandarilhas que lhe saíram com rigor e deixaram o público rendido.
Concluída uma lide com emoção, Marcelo agracia o ganadeiro com um convite para dar volta à arena e recolher os aplausos.
Encerrou a tarde, o jovem praticante David Gomes que lidou o último preto deste curro, com 495kg. Aos 23 anos, este campeão de equitação de trabalho, com uma quadra de garbo e dono de um notório apreço pelo toureio, vem de actuações coerentes que confirmam o seu potencial.
David, iniciou com dois compridos algo precipitados, que que lhe saíram um tanto descaídos. Na tentativa de revelar a panóplia de potencialidades que vem apresentando, o cavaleiro variou as sortes. O primeiro curto viu-se bem citado, mas cravado a silhas passadas e consentindo um ligeiro toque em tábuas. Ao segundo, entrou com rapidez, não pronunciando os momentos e o ferro a sair traseiro. No terceiro e quarto ferros escolheu os melhores terrenos para a investida, mas ainda assim a saírem mornos. Saca outra montada, e ante um toiro que se rachou, o cavaleiro concretiza uma sorte de violino, ainda que com alguma precipitação. O brio e a façanha não abrandam e o jovem aspirante desenha uma sorte frontal para deixar um ferro de palmo em escassa reunião e um par de bandarilhas em terrenos de fora, ambos muito aplaudidos.
As véstias das ramagens foram nesta tarde envergadas pelos da Tertúlia Tauromaquica do Montijo, do Aposento do Barrete Verde de Alcochete e de Arronches.
À cara do primeiro da tarde foi Luís Carrilho, que à segunda tentativa se fechou bem à córnea, acolhendo um toiro cheio de força, mas que vinha a direito e permitiu ao grupo reunir, ainda que, com algumas dificuldades em parar.
A pegar o segundo esteve Leandro Bravo, dominou ao quarto intento um toiro pouco cansado, a derrotar e fixo na ideia de arremessar o Forcado.
Pelos de Arronches, foi para a pega vencedora do concurso, Fábio Mileu. Valeu-lhe a confiança e a grandeza de espírito, perante um toiro a humilhar. À primeira tentativa, o Forcado determinado a ficar citou, templou, e carregou aguentando os derrotes que o primeiro ajuda não consentiu viajando sozinho até que os sete companheiros voltassem à formação para concluir.
Numa acesa briga com o quarto do curro, Márcio Chapa viria a pegar à quinta tentativa fazendo valer a persistência e coesão de um grupo já bastante concentrado.
Para a cara do quinto saltou Diogo Amaro, que citou de largo e efusivo a um toiro sem língua à vista. Entrou na jurisdição e recebeu, com o Grupo a ligar-se consumando à segunda.
A fechar Praça, Paulo Florentino citou bem e mandou vir, com o toiro a ensarilhar, o Forcadosoube ler a investida e recebeu numa reunião rija e à córnea.
Ana Paula Delgadinho