Num dia em que se esperava que o povo saísse à rua para agraciar os Forcados da terra, em celebração dos 45 anos da sua existência, não se viu mais que 1/3 de público em Praça.
A tarde esteve arrefecida pelo clima e pelo espectáculo, até porque os toiros não trouxeram a emoção necessária.
Francisco Núncio, ausente das lides nos últimos 2 anos, volta com o estilo e a postura de quem não esquece. A nobreza que o liga a seu avô, Mestre João Branco Núncio, foi um sinónimo de forte referência neste cartel.
Francisco, lidou um Ortigão Costa, preto astillano que se desligava facilmente, acusando a agitação que se fazia sentir entre barreiras. Não foi brilhante na cravagem dos compridos, onde concretizou de largo ante um toiro tardo.
Troca a montada para dar inicio a uma série de quatro curtos, onde o acto de citar não fez comparecer o toiro, nem arrancar-lhe a investida. Ainda assim, na tentativa de desenhar as sortes, o Cavaleiro das Alcáçovas consegue algum destaque nos segundo e terceiro ferros tirados em tábuas, onde o toiro mostrou em breves rasgos algum sentido de lide. No quarto, sem espaços para brega, entra-lhe nos terrenos e crava sem reunião possível, concluindo uma lide sem emoção.
A Pedro Salvador, saiu-lhe um da ganadaria Irmãos Dias, salgado e comunicativo, dado que berrou durante praticamente toda a lide. Aparentemente a falta de compreensão, valeram ao Cavaleiro dois compridos sem destaque, um primeiro descaído e um segundo à tira do qual se retém apenas o remate.
Para os curtos Pedro trás à Praça a sua estrela, “Solpinho” um cavalo palomino que executa as sortes com verdade e harmonia. Primou pelos ladeios, cravando o primeiro em tábuas, e o segundo com o toiro nos médios executa uma sorte frontal com bonita batida e uma cravagem correcta. Com o toiro ligado, nos últimos ferros, o Cavaleiro impôs o mando e exibiu o seu toureio “quebrado” com batidas ao pitón contrário, embora não tão pronunciadas como nos vem habituando.
Para Paulo Jorge Santos estava reservado o terceiro da tarde, um toiro Santos Silva que se fez aguardar, devido a trabalhos nos currais, o que não veio beneficiar uma tarde já pouco entusiasta. Este gacho, estreou-se com um susto às bancadas colhendo sem perigo um bandarilheiro, que lhe ficara na retina durante toda a lide.
Teve início uma lide animada, com dois compridos apontados em sortes bem desenhadas, ainda que, com algumas lacunas no momento do quarteio. Para as sortes de bandarilhas, o Cavaleiro a quem se lhe reconhece a determinação, recorre a um trunfo da sua quadra o “Xairel”, um cavalo baio sem ferroque proporciona graciosos momentos de brega. Destacam-se o segundo e terceiro curtos, com o toiro a “apertar”, Paulo cita de largo e com algumas notas de boa equitação permite a reunião e a cravagem com rigor.
A abrir a segunda parte esteve Manuel Telles Bastos, o fiel Cavaleiro às regras do toureio clássico sem cedências. Tocou-lhe um António Reis, meano ligeiramente Corniabierto, que viria a proporcionar uma lide regular.
Inicia com dois compridos cravados com integridade, com a mesma exigência que lhe assiste em qualquer Praça. Nos curtos, Manuel pouco exuberante mas alegre e sério na interpretação, trabalhou para fixar o toiro nos médios, cravando o primeiro com talento numa reunião quase perfeita. No segundo e no terceiro, estiveram presentes a elegância e o saber montar que o caracterizam, permitindo concretizar duas sortes completas, bregadas, aguentadas e cravadas de alto a baixo. Com a terceira montada Manuel, procura toiro onde não há, ainda assim a fazer-se ver, cita e busca a investida do oponente, para culminar com dois ferros a gosto.
O Cavaleiro senense, Gonçalo Fernandes vem em crescendo, realizou esta temporada algumas actuações meritórias das quais se destaca a Corrida de S. João, na Guarda, em Junho do presente ano.
Brindada à forcadagem, a sua lide não teve momentos de grande relevo, e para isso muito contribui o toiro Casa Avó que lhe calhou em sorte, um preto bonito de cara mas que não acudiu ao cite quando era solicitado e no decorrer da lide veio a menos.
Com despacho cravou três compridos, à tira sem reunião e sem remate.
Perante um toiro distraído despegando-se facilmente do cavalo, para encrençar junto a tábuas, o jovem Cavaleiro entrou nos curtos com garra e determinado a lidar com acerto e trazer o toiro para terrenos médios onde citou de largo, entrou recto e cravou a quarteio. Termina a sua actuação com bom ferro, sucedido de uma suada brega, ainda que sem rematar.
A terminar as lides a cavalo, esteve David Oliveira um jovem praticante para lidar um toiro exemplar da ganadaria Engº Jorge Carvalho, cujo encaste actual passa pela Oliveira e Irmãos entre outros.
Um toiro preto, manso que não deixou grande alternativa para além das sortes a sesgo de modo a permitir ao Cavaleiro cravar a ferragem da ordem. Assim foi nos compridos.
David entrou nos curtos com o “Vintage”, e desde logo que evidenciou uma dupla com qualidades para trabalhar.Conseguiu sustentar e desenvolver a lide em crescendo com ferros virtuosos e bons momentos de equitação. No primeiro dos curtos o Cavaleiro entrou pelos terrenos do toiro, embora sem investida, mas o ferro a sair. No segundo e terceiro, esteve bem na opção dos terrenos e vencida a luta da brega, sem aguentar, cravou com o toiro a desligar de imediato.
Rematou a sua actuação com uma sorte de violino, que embora algo larga, trouxe algum entusiasmo às bancadas.
A pegar estiveram em solitário os da Azambuja. Em Praça e por ocasião de aniversário estiveram presentes, fundadores, antigos e actuais, estes capitaneados desde 2006 por Fernando Coração.
À cara do primeiro foi Vinícius Rodrigues, fixou-o à voz e na ginga de cintura, carregou uma primeira sem sucesso, mas a manter-se ligado concretiza à segunda carga aguentando fortes derrotes de um toiro pouco cansado. De salientar também a actuação do rabejador, com um desplante muito bem pronunciado.
Ao segundo foi Pedro Fragoso, que fez uma emocionada despedida das Praças a merecer uma volta em ombros acompanhado de todos os elementos. O Pedro dedica a sua pega ao Grupo e decidido, entra a pegar um toiro que desde logo se fixou, consumando à barbela uma pega sem dificuldade.
Para a cara do terceiro da tarde veio João Pedro já a dobrar, dado que o 1º cara saiu vitima de fortes derrotes e da frieza de um toiro a entrar pelo Grupo dentro. O Forcado acabou por consumar à terceira fechando-se à córnea e com as ajudas carregadas.
Para o quarto da tarde estava reservada a velha guarda, a atitude sábia de quem já pegou mais de cem toiros, o Quitério. O cite chegou a toda a Praça, a raça e a devoção silenciaram. À segunda tentativa, a força da paixão pegou este toiro. Mandou na investida, e no momento certo reuniu com as ajudas coesas.
Também Pedro Belbute dobrou, para pegar o quinto. Numa pega dedicada à banda, Belbute viu o Casa Avó a partir com pata, embateu de forma rija, mas o Forcado fechou-se bem com as ajudas bastante carregadas e o toiro acatou.
A fechar Praça, esteve Daniel Reis, a quem o toiro não deu tempo de citar, nem mandar, investiu voluntário com o Forcado a fechar-se de braços e o grupo a reunir com rapidez, vendo assim este jovem de Torres Vedras concretizar ao primeiro intento.
Ana Paula Delgadinho