Foi a segunda corrida e a data mais tradicional da temporada setubalense. Infelizmente, a casa não foi além da metade de preenchimento. Também o vento fresco e as dificuldades dos toiros impediram que a noite tivesse sido tão quente quanto prometia. Efectivamente, o curro da divisa Cunhal Patrício deu um jogo difícil por demais e por melhor e mais empenhado que tenha sido o esforço dos três jovens cavaleiros, não houve matéria que chegasse para triunfos redondos. Muito por cima dos toiros, os três cavaleiros ofereceram um recital de bom toureio, a pisar terrenos de verdade e a por em destaque a emoção que sobrava dos encastados que tiveram pela frente.
Vitor Ribeiro abriu praça e teve pela frente o exemplar que mais transmitiu. Muito encastado, o imprevisível oponente pedia duras contas sempre que saía para acometer a montada, mesmo assim, o cavaleiro não hesitou em dar-lhe todas as vantagens. Foi uma lide emocionante, entre a brega a ladear sempre “metido entre os pitons do toiro”, a entrega e os sonoros ferros, aproveitando o “perigo” do toiro para chegar à bancada. Verdadeira lide de triunfo, arriscada e sem pecado. Na segunda metade da corrida igualou as boas maneiras e a ferragem da ordem foi cumprida nos seus cânones. Não teve, porém, a mesma vibração intensa da primeira parte. O ginete bem tentou, mas o toiro não transmitia nos arreões encastados e nas reuniões, ficando o cavaleiro muito por cima do exemplar. Mesmo assim, Vitor Ribeiro marcou em Setúbal uma das mais interessantes lides que já lhe vimos esta temporada.
Também, por sua vez, soube Moura Caetano aproveitar muito bem as condições e temperamento de ambos os exemplares que lhe tocaram em sorteio e obteve duas importantes actuações. Esteve realmente muito bem! O primeiro exemplar saiu enraçado e a galope – mas o que parecia casta revelou-se bem o oposto. Completamente alheado da montada fez com que o ginete suasse e demorasse para cravar o primeiro comprido, tendo mesmo que recorrer a um capotazo do peão de brega para concretizar. Não estou certa mas intuo que terá sido este pormenor que levou a que Pedro Reinhardt, que dirigia a corrida, não viesse a brindar a actuação com a música que ao longo dela se foi pedindo. É que de facto, tirando aquele pormenor do primeiro ferro, tudo o resto foi com recurso a esforço e entrega sem que o exemplar revelasse a mínima intenção de se prestar aos intentos da lide. Embora no capote repetisse a gosto, acudia à montada apenas quando o cavaleiro lhe entrava descaradamente nos terrenos. Não houve toiro para as intenções de triunfo do cavaleiro. Já na segunda parte, apesar de “não ter muito”, o toiro permitiu outras virtudes e a lide de extrema beleza artística. Apesar de ao primeiro curto haver deixado colher a montada aparatosamente, foi dali em diante verdadeira declamação de poesia, entre os quiebros e os terrenos de compromisso! Olé!
O toiro arrancou encastado e “para colher” e João Telles Jr. aguenta e crava em suavíssimo quiebro, de mão de alto a baixo pelo estribo. Foi assim que começou a lide nos curtos do primeiro exemplar. Tal como os demais, o Cunhal Patrício pedia contas nas investidas rudes e o que sobressaiu da lide do ginete da Torrinha foi precisamente a suavidade de cada abordagem. Teve uma lide redonda, clássica e de muito entendimento. O último exemplar que lhe tocou em sorteio, acabou por se revelar um dos mais difíceis do curro. Desinteressado da montada, exigiu que o ginete se redobrasse em esforços para lhe dar a volta. Apesar de não ter conseguido ligar faena, sobrou em mérito a colocar o toiro, a entender-lhe os sítios e a executar as sortes!
O capítulo das pegas levaram a cabo os Amadores de Santarém e de Alcochete.
Pelos mais escalabitanos foram caras João Grave ao primeiro intento enorme a aguentar as hesitações do exemplar e a fechar com garra à barbela, João Manso à terceira tentativa e Henrique Ferreira com uma eficaz primeira ajuda consumou ao primeiro intento, bem fechado à córnea aguentando a viagem até tábuas.
Pelos Amadores de Alcochete, que consumaram as três pegas ao primeiro intento, foram caras João Gonçalves com excelente primeira ajuda de João Rei, Pedro Belmonte tecnicamente perfeito! E Joaquim Quintela que fechou a noite com uma belíssima pega a um toiro duro!
Sara Teles