Para entrar na praça da Messejana era preciso atravessar a feira no largo da freguesia junto ao palco onde já havia “bailarico”. E assim entrou também a festa para a corrida do 15 de Agosto, onde o público é exigente e assobia o que não está bem, tanto quanto se entusiasma e aplaude o que é bonito e bem feito. Bravo Messejana! É mesmo assim que vale a pena ir aos toiros…!
A apresentação do curro de Lampreia foi de nota alta. Tudo acima dos 500kg, foram toiros que se deixaram bem, que entretiveram e transmitiram, não obstante alguns tenham saído distraídos.
Antiguidade é posto e Rouxinol lidou o primeiro. Colheu grande aplauso na brega em andamento a compasso entre a espádua e estribo seguida do primeiro curto. Deu primazia à investida e cravou ferros de número redondo, numa actuação quente e com ritmo. Repetiu o êxito na segunda metade, em que se permitiu a mais adorno, quer nos cites terra-a-terra do início dos curtos ao fim desta ferragem com um sonante grande par a duas mãos ao estribo e um vistoso palmo.
No rosto de Filipe Gonçalves não se viu desalento quando recebeu uma violenta colhida na montada ao primeiro curto nem quando no seguinte ferro a voltou a ver comprometida. No seu rosto viram-se ganas de corrigir “aquilo tudo” e mostrar de que massa é feito. Foi isso que fez! Trocou a montada para o generoso Xique e aliados às palmas e brega cravou os ferros ganhando o piton pela cara do toiro. Confirmou-se na segunda parte que o sorteio não foi afortunado para o ginete algarvio – a quem definitivamente coube o pior lote. Neste segundo, muito distraído, voltou a ter que dar tudo para sair em bom plano, como o fez. Apostou nas sortes carregadas ao piton contrário que resultaram bem e terminou com um par cravado a desenhar quarteio.
Moura Caetano embeveceu. Foi ao estribo que o cavaleiro montou faena no seu primeiro oponente. Muita ortodoxia e quanta inspiração estiveram por diante para esta actuação tão redonda em que os ferros se seguiram ligados, sóbrios, sem exageros no estilo e grande pincelada de alto abaixo. Infelizmente que da inspiração não vem tudo e por isso a noite não terminou redonda para Moura Caetano. Frente ao pior toiro do lote, ainda escutou assobios nos primeiros ferros, que não ficaram “en su sitio”. Contornou as dificuldades que lhe impunha o andarilho e saiu depois num registo de correcção, com ferros em igual número aos da primeira parte mas que não se somaram ao brilho quase celestial que havia espalhado antes.
Os imponentes de Lampreia impeliam ao receio para as pegas a que acrescia a dificuldade da ausência de trincheiras e a parede de alvenaria da castiça praça. Felizmente ambos os grupos apuseram técnica mais que sobrante para resolver “sem estragos” as pegas da noite.
Pelos Amadores de Alcochete Vasco Pinto mandou à cara do primeiro Tomás Vale que se viu empurrado para baixo ao primeiro intento. À segunda, apesar de ter recebido o toiro com o joelho por diante conseguiu ficar na córnea com um grupo a ajudar coeso. Também à segunda consumou Diogo Timóteo. O forcado nunca largou a córnea ao primeiro intento mas como se desviou da cara, o cabo não hesitou em mandar repetir, agora com uma reunião e viagem dura, que o forcado aguentou bem fechado à córnea. João Gonçalves consumou boa pega à primeira com o toiro a empregar-se muito. Recebeu no momento certo e é levado até “tábuas” com o grupo a ajudar pronto e coeso.
Pelos Amadores de Cascais Joel Zambujeira reservou para si o primeiro toiro em que mandou para receber humilhado e se fechar bem à córnea com boa ajuda. Luís Camões fechou com eficácia à barbela depois de trazer o exemplar toureado na investida, concretizando ao primeiro intento. Carlos Ricardo fechou a noite “certeira” do grupo com uma pega duríssima em que o toiro trouxe a cara lá em cima e empurrou a bater até tábuas.
Importante referência à homenagem que se prestou ao falecido provedor da Santa Casa da Misericórdia de Messejana, Manuel Ruas – grande impulsionador “dos toiros” na localidade. A quem se dedicaram bonitas palavras.
Sara Teles