Entrevista: António Maria de Brito Paes
Fevereiro 2013
Torres Vedras
Ser Cavaleiro Tauromáquico é naturalmente uma actividade que exige alguma formação de suporte, como qualquer outra. Acontece porém, que há quem não menospreze essa mesma formação ao longo da carreira e se alimente de uma vontade constante de melhorar e acompanhar o progresso do Cavalo de Toureio. Brito Paes está imbuído num espirito de trabalho, que faz dele um exímio equitador e um Cavaleiro Tauromáquico em crescendo.
Ser Cavaleiro Tauromáquico é para muitos um sonho. Para si é uma realidade e a ligação de outra geração da família Brito Paes a esta arte. Sente que tem um dever especial?
Sim, é sempre um nome a defender. É uma família que já tem uma história nos Toiros, já tem um nome conhecido no meio o que por vezes tem as suas vantagens, como seja estar integrado no meio taurino, mas por outro lado há sempre a preocupação de defender o nome o que é uma grande responsabilidade.
Desde muito cedo aprendeu a montar, sob a instrução do seu pai. A cumplicidade desta relação é um alicerce da sua carreira?
O meu pai tem sido sempre o meu orientador. Temos falado muito sobre isso, porque em todas as modalidades é necessário um orientador, em toda a equitação mesmo na dressage os Cavaleiros olímpicos têm um treinador. Até os melhores do mundo necessitam ser orientados e receber dicas do exterior. Há uma grande diferença entre quem vê e quem sente, é preciso haver um certo equilíbrio, porque mesmo montando todos os dias e toureando com frequência, podemos adquirir algumas práticas e vícios que quem nos acompanha identifica e nos ajuda a corrigir.
A cumplicidade com o meu pai, começa exactamente por aí, por ser pai, por me conhecer bem. Para além disso, conhece o Cavalo, conhece o Toiro, é um bom equitador, ou seja, há um conjunto de factores importantes e de grande sintonia entre eles. É engraçado, que durante o nosso trabalho juntos “roubamos” pensamentos um ao outro, porque estamos muito sincronizados.
Estreou-se como Cavaleiro amador em 1994, prestou prova de Cavaleiro praticante em 2001 e recebeu alternativa de Cavaleiro profissional em 2005, como revê este percurso?
Tenho tentado construir todas as etapas de modo sustentado, passo a passo sem grandes pressas.
Faço um trabalho muito dedicado para tentar andar o melhor possível a Cavalo e dominar bem os Cavalos, de maneira a que estes andem bem e me tragam o resultado esperado. Depois tento sempre dar o meu melhor, mostrando o meu Toureio o melhor possível, tentando entrar em cartéis com destaque. No meio de tudo isto, é necessária também a estrelinha da sorte, mas também é preciso procurá-la.
A minha carreira tem sido preenchida com algumas actuações importantes, como foi o caso da corrida de alternativa, que foi na minha opinião uma actuação muito boa, a confirmação da alternativa em Lisboa foram também duas actuações muito do meu agrado. No final destas lides, pensei… “Até podia não tourear mais, porque já valeu a pena tudo o que trabalhei até aqui para ter estas actuações”. Embora hoje pense que estou ainda longe daquilo que pretendo alcançar, o meu objectivo é ser figura do Toureio e já me mentalizei que vou conseguir.
É reconhecido como exímio equitador, e conhecedor dos requisitos equestres aplicados ao Toureio. Faz questão de ser o António a preparar os seus Cavalos?
Já tenho comprado Cavalos que já vêm a Tourear, no entanto corremos o risco de adquirir Cavalos com vícios, manhas, que não estão bem-postos à nossa maneira.
Tenho-me dedicado muito a montar a Cavalo, e todos os anos procuro montar com uma pessoa diferente. Acho que é bom, para conseguir adquirir ensinamentos diferentes, trazer o lado bom da experiência que cada pessoa nos pode dar e que podemos juntar ao nosso conceito de equitação. Aprendemos vários métodos, vários processos que podemos adaptar de Cavalo para Cavalo, ou seja, há métodos que tenho aprendido que se encaixam melhor em determinados Cavalos que noutros. É assim que tenho aprendido muito.
Há quem diga que tenho sorte porque ando muito bem a Cavalo – também podia não ter jeito, é uma verdade!- mas eu quando nasci não sabia andar a Cavalo, fui-me tentando formar o máximo que consegui e em vários sítios, para que conseguisse andar bem a Cavalo. Ainda hoje, e monto todos os dias, reconheço que me falta aprender muito.
Se tivesse que eleger o seu melhor Cavalo de Toureio para comercializar. Quem o montaria?
Uma coisa que me dá prazer é vender um Cavalo a uma figura do Toureio. Tenho um sonho de vender um Cavalo meu ao Pablo Hermoso de Mendonza, porque na minha opinião é um Cavaleiro fora do normal, é mesmo um Toureiro fora do normal e eu nunca lhe vendi um Cavalo.
Já vendi Cavalos a muitas figuras, ao João Moura, ao Diego Ventura, ao António Ribeiro Telles que comprou há uns anos um Cavalo muito bom ao meu pai, ao Rui Salvador, ao Sérgio Galán, ao Cartagena, enfim… já vendi a muitas figuras do Toureio, mas ao Pablo nunca vendi. Respondendo à pergunta, escolheria o Pablo porque é muito fino a Cavalo é um Cavaleiro que dá gosto ver numa Praça, mesmo que não saia um bom Toiro vê-se que há ali uma marca de categoria, uma imagem de marca muito acentuada.
Como caracteriza o seu Toureio, pelo classicismo, pela irreverência, pela espectacularidade…
Julgo que sou um pouco clássico e tento adaptar-me também à evolução do Toureio. Penso que o truque é utilizarmos bem os Cavalos que temos, para tirar o máximo partido daquilo que os Cavalos dão. Na minha opinião não são os Cavalos que se adaptam ao estilo do Cavaleiro, mas somos nós que temos que ter a capacidade de tirar o máximo partido das capacidades do Cavalo. Se o Cavalo for “craque” e tiver habilidade para bater ao pitón contrário, ou para fazer uns câmbios, julgo que devemos aproveitar essas potencialidades e tirar partido da prestação do animal. Tento aproveitar as mais-valias, de uma forma clássica.
Quais são suas principais referências enquanto Toureiro?
O meu pai sem dúvida. Tem-me ajudado em tudo aqui em casa e tem-me orientado desde sempre. Por vezes em visitas que fazemos também adquirimos algumas referências, estou-me a lembrar por exemplo no Moura trouxemos uns conceitos que nos ficaram na cabeça, fui ao Ventura também de onde trouxe novas aprendizagens, quando vou à Torrinha trago outras referências, estive em casa do Pablo também uma semana a montar com ele, enfim… adquirem-se conhecimentos que depois aqui em casa tentamos explorar com os nossos Cavalos e adaptar aos nossos objectivos.
Mantendo-me fiel aos meus princípios, tento absorver algo de novo com outros profissionais experientes.
Como é o seu dia de trabalho?
Começamos o dia cerca das 9.00h da manhã na cocheira, organizamos todas as tarefas e começamos a montar os Cavalos, alguns deles chegamos a montar duas vezes por dia.
Aqui em casa há uma grande capacidade de trabalho e todos se empenham, trabalha-se muito.
No meu dia de trabalho são muitos a participar, tenho os meus funcionários, um dos que trabalha afincadamente comigo todo o dia é o Bruno, nós dois chegamos a montar vinte e por vezes mais de vinte Cavalos por dia. Para isto há que ter uma capacidade grande de trabalho, e julgo que temos mostrado serviço, temos tido Cavalos novos a tourear, temos Cavalos do nosso ferro que andam muito bem, tem-se mostrado muito trabalho.
Revele-nos um dos melhores momentos da sua carreira.
A minha alternativa, por ter sido um sonho alcançado. Foi uma actuação muito boa, foi um momento que nem sei bem explicar, se me questionar como é que toureei o Toiro eu nem me lembro, de tão irreal que me parecia. Foi um instante de tal êxtase que não conseguia recordar-me do meu desempenho, do que fiz durante a lide…
Esta corrida e a do Campo Pequeno foram duas corridas que me marcaram muito.
Quais as principais expectativas para a nova temporada?
Com o meu apoderado novo, o Rui Palma, apesar de ser estreante como apoderado tenho muito boa impressão dele. Julgo que há indícios de que as coisas estejam a correm bem, nomeadamente tenho já algumas corridas marcadas. O Rui tem desempenhado bem o seu papel, é uma pessoa bem relacionada, que já deu algumas corridas e como empresário também já se sabe colocar do outro lado de apoderado, pelo que tenho as melhores expectativas para esta nova temporada.
Bem sei que as coisas estão um pouco complicadas, mas por vezes pode não ser necessariamente negativo, porque nestes momentos complicados muita coisa se define, o que é importante. Por vezes nas dificuldades estão as oportunidades e se conseguirmos ultrapassar essas dificuldades pode ser que conquistemos um bom lugar na Festa.
Habitualmente conhecemos os profissionais de Toureio como supersticiosos, ou crentes. O que faz antes de iniciar uma lide?
Supersticioso não sou nada, nada mesmo! Não valorizo se o ferro é amarelo, ou se o chapéu está em cima da cama…naturalmente não o ponho de propósito, mas se estiver que estar, está!
No entanto sou religioso, embora não seja um católico praticante, ainda assim acho que ser católico não chega, não basta acreditarmos em Deus também temos que acreditar em nós.
Quando vou para uma corrida, por vezes rezo em casa e quando entro em Praça penso em Deus e sinto que estou acompanhado.
Haverá novidades na quadra para a nova temporada?
Há, tenho um Cavalo que na minha opinião é bastante bom, o Caramelo. Relativamente conhecido, é um Cavalo de saída bastante bom que o ano passado toureou oito Toiros de saída, mas este ano vai vingar. Há um outro Cavalo que também penso que vá andar bem, é um Cavalo do nosso ferro, o Baco, que vai também para a segunda temporada. Este Cavalo toureou entre doze e catorze Toiros o ano passado, mas agora já com sete anos penso que está mais sólido. Tenho um outro Cavalo que penso que poderá ser muito bom, que é um Cavalo que ainda não tirei em Praça, o Duende. É irmão pleno de um Cavalo de saída que tenho que é o Violino, um Ascensão Vaz, e estou confiante que será um Cavalo com uma atitude fora do habitual, é muito elástico tem muita habilidade, é um Cavalo muito poderoso e sinto-me muito bem a tourear nele.
Temos ainda quatro Cavalos do nosso ferro, de quatro anos que andam nas vacas já de boa maneira, Cavalos da linha do Nilo e do Magic Count, dois Lusitanos puros e dois cruzados. Tenho um outro Cavalo que anda muito fácil nas vacas, que penso tirá-lo este ano é o Evasivo. Tem um ferro novo do Sr. José Carlos Gomes, embora tenha muita origem de sangue de Braga da coudelaria das Silveiras e a mãe é da linha do Morante, do Ventura e do Viriato que actualmente está no Pablo, é um Cavalo com uma genética muito boa e será certamente bastante útil já este ano.
À parte destes, tenho cinco ou seis Cavalos que estão sólidos a tourear e basicamente a quadra é esta, tenho cerca de dez Cavalos a tourear.
Considero o Nordeste como umas das estrelas da minha quadra, tem sido um Cavalo muito bom embora esteja numa fase de descendo, é um animal já com alguma idade ainda que trabalhe com ele regularmente, acho que se o parar ainda envelhece mais. Outra estrela, é o Violino um Cavalo de saída fora do normal, mete grandes ferros de saída a dar vantagem ao Toiro. Este ano espero que o Baco se torne a nova estrela, é um luso-árabe com o nosso ferro com muita força, muito vibrante e que acompanha o meu toureio, porque eu sou um Toureiro perfeccionista e por vezes um pouco frio, em Praça tem de sair tudo como eu quero.
Que ligação tem à ganadaria “Dr. Brito Paes, Herdeiros”?
Acompanho praticamente tudo, vou às ferras, vou à sanidade que por vezes é preciso ajuda, vou às tentas, toureio muitas vacas de lá, tenho uma ligação grande. Vivo muito a ganadaria, quando saem os Toiros sofro, fico nervoso…enfim gosto muito da ganadaria.
A genética é sempre uma parte importante, porque ali dois mais dois não são quatro, nem todos os sementais ligam bem com todas as vacas.
Agora temos muita esperança nos filhos de dois sementais que comprámos ao João Moura, são muito bonitos, amarelinhos, mas vamos ver.
Como se posiciona a sua opinião relativamente à qualidade das ganadarias em Portugal. Eleja uma.
Há ganadarias muito destintas. Há o Toiro bravo e o Toiro “dócil”. Julgo que o Toiro deve ser bravo mas obedecer ao toque, correr atrás do Cavalo, penso que esse é que é o bom Toiro.
Bem sei que é um Toiro raro, nós imaginamos mas é difícil um ganadero fazê-lo. Mas acho que o Toiro tem que ter alegria, tem que ter recorrido, o que por vezes não há. Depois pergunta-se como esteve o Toureiro e não há respostas positivas porque com um Toiro parado a meio da Praça ninguém consegue transmitir nada. O Toiro tem que ter movimento e tem que ter energia, não tem necessariamente que ser mau, por vezes como Toureiro sinto que quanto mais os Toiros põem, mais nós Toureiros temos que pôr. Muitas vezes os adornos são o que trás entusiasmo à lide, porque se o Toiro não mexe nós temos que fazer alguma coisa, se o Toiro transmitir não haverá necessidade de optar por outros números.
Por outro lado, e até como espectador não fico nada contente de ver certos ganaderos satisfeitos de ver os Toiros a pregar apertos aos Toureiros. Uma coisa é o Toiro ser bravo, transmitir e incomodar no bom sentido a ir pelo seu caminho, agora ser maldoso a desviar a trajectória, a vir com a cara por cima, a tapar a saída ao Toureiro parece-me lamentável, e ainda mais quando vejo os ganaderos contentes com isso, não posso concordar.
Um bom Toiro é aquele que vem de Praça a Praça, alegre mas pelo seu caminho.
Em relação às minhas ganadarias favoritas, sinceramente na época passada e sem querer ser faccioso o meu curro de eleição foi um dos nossos Brito Paes, Herdeiros em Abiul. Saiu uma corrida de Toiros como descrevi com os Toiros a virem de Praça a Praça com a cara pelo chão, entregues, com vontade de investir, com vontade de partir tudo mas a ir pelo seu caminho. Foi uma corrida fantástica, daquelas que gostaria de ter como ganadero e daquelas que gostaria de tourear. Com bravura, mas com a cara pelo chão, com categoria…ai senti muita vontade de manter a ganadaria. Porque repare, o meu pai refere várias vezes que vai acabar com a ganadaria, em termos económicos não se consegue de facto sustentar uma ganadaria perde-se dois mil euros em cada Toiro, é insuportável. Sou obrigado a dar-lhe razão, porque a Festa não aguenta o preço real de um Toiro. Nesse dia disse ao meu pai: “Não se pode acabar com isto! Ganadarias destas, se conseguirmos manter o nível, não há!” A corrida teve uma média de quinhentos e trinta quilos, saiu-me um Toiro de seiscentos e quarenta quilos, já não é o “gatinho” que diziam ser o Toiro da nossa ganadaria.
Qual a sua opinião sobre a entrada de Toiros espanhóis nos cartéis da Corrida à Portuguesa?
Não tenho nada contra os Toiros espanhóis, desde que não venham Toiros de quatro anos que já tenham ido aos encierros, ou com os cornos cortados. Desde que sejam dadas garantias de bravura em Praça, não tenho nada a opor.
Agora, eu como empresário preferia sempre pôr curros portugueses, porque se vamos pelo valor, hoje em dia quando falamos de numa ganadaria média o preço não varia assim tanto.
Eu sou muito patriota, como tal pela curta diferença de preço, julgo que se devia optar pelo produto português ao invés do espanhol ou de qualquer outra nacionalidade.
Partindo do princípio que são artes diferentes e com origens distintas, como encara a presença do Rejoneio no Toureio em Portugal?
Encaro bem! Penso que é diferente, os próprios rejoneadores o dizem. Penso que eles são bons, acho que tem muita dificuldade aquilo que fazem, embora os Toiros venham postos de maneira diferente porque levam os rojões.
De qualquer forma, penso que não podemos comparar, acho que os melhores de lá serão bons cá e os melhores de cá também são muito bons lá. Ainda assim é sabido que, quando as figuras cá vêm é com Toiros que lhe dão a garantia de triunfo, porque se toureassem quatro ou cinco corridas seguidas cá em Portugal, penso que não estariam da mesma maneira. No entanto como disse, vejo dificuldade naquilo que fazem, dou-lhes muito valor e tenho o prazer de privar com alguns deles em suas casas onde tenho aprendido algumas práticas.
Sabemos que divide a paixão do Toureio por outras actividades, quer dizer-nos quais?
Gosto muito do campo, tudo que esteja ligado ao campo eu gosto. Gosto muito de galgos, gosto da caça, vou às lebres, vou às raposas muitas vezes na companhia do meu irmão e com os fox terrier. As férias de que mais gosto são as férias da Páscoa, em que vamos para o monte e vive-se de tal forma um espirito de campo que nem se liga a televisão. Durante praticamente um mês, uns dias tenta-se, outros toureia-se, o meu irmão gosta muito de derribar, tosquiam-se as éguas, desmamam-se os poldros, ferram-se os poldros, ferram-se os bezerros, há sempre qualquer coisa para fazer.
São umas férias de que gosto muito, penso que para sermos felizes temos de ter algo a que nos dedicamos com prazer, como se fosse um hobbie e nós somos felizes à volta disto.
Quais são os principais troféus que marcam a sua carreira?
Hoje em dia, penso que o troféu é algo subjectivo. O melhor troféu que me podem dar é o triunfo.
É preciso criar oportunidades, penso que nenhum Toureiro se pode queixar de falta de oportunidade, porque todos nós toureamos. Se não nos mostrarmos no Campo Pequeno, teremos a nossa oportunidade em Torres Vedras ou Aljustrel, ou noutro pueblo qualquer, ou seja, se estivermos bem no pueblo acabamos por ir a uma corrida de segunda, se estivermos bem na corrida de segunda acabamos por ir a uma corrida de primeira. As oportunidades acabam por chegar se formos bons e as criarmos, é uma questão de tempo.
Agora, o melhor troféu que há é depois da oportunidade conseguirmos o triunfo e estar ao lado das grandes figuras, mantendo-nos ao nível destas figuras.
Em Espanha há o corte de orelhas, é uma demonstração de triunfo, justou ou injusto há um método há um critério e quem vence é quem as cortou. Nós não, temos a volta à Praça, mas a volta à Praça todos damos. Tenho que dizer que me sinto muito mal em dar as voltas à Praça quando sinto que tive menos bem, mas é quase uma obrigação, o próprio público assobia e não quero de forma nenhuma faltar ao respeito ao público.
Gostariamos que imaginasse a sua Corrida de sonho, e nos disse-se quem compõe o cartel (incluindo obviamente o António), qual seria a ganadaria e a Praça?
Eu faria como as grandes figuras, que muitas vezes são criticadas, mas as figuras têm que ir a uma corrida que lhe proporcione o máximo de hipóteses de triunfo.
Imaginando essa corrida, toureava no Campo Pequeno, com figuras nossas o Rouxinol, o Moura e uma figura de Espanha. Os forcados seriam daqueles Grupos bons como, Santarém, Montemor, Lisboa por aí, optava por dois grupos onde tivesse amigos. A ganadaria talvez Passanha ou Brito Paes, uma ganadaria que me desse condições para tourear bem e triunfar.
Quem é António Maria de Brito Paes?
Penso que sou do mais simples que há. Sou uma pessoa que procuro dar-me bem com toda a gente, tenho amigos em todo o lado, sinto-me bem recebido em todo o lado o que é importante.
Gosto de aprender, preocupo-me em aprender todos os dias, sair de casa e adquirir novos conhecimentos com colegas meus, Cavaleiros diferentes, gosto de ir às ganadarias, gosto de ver o que os ganaderos sentem quando tentam, gosto do campo, gosto muito de estar sozinho a trabalhar na paz, no sossego, no descanso.
Quando é para aparecer em qualquer lado, gosto de aparecer bem, levar um Cavalo bem-posto bem arranjado, gosto de pôr Cavalos novos, dá-me muito orgulho ver os meus Cavalos a tourear bem nas mãos de colegas meus.
Sou feliz, casei bem, gosto muito da minha mulher que embora presentemente esteja ausente no estrangeiro, me dá um apoio grande em termos de logística e na gestão da minha imagem (comunicação, redes sociais, etc.) e ajuda-me no que for necessário. Está sempre ao meu lado e é muito minha amiga.
Sou feliz, a minha mulher é parte dessa felicidade mas toda a família que me rodeia está presente em tudo, por vezes estou a montar a minha mãe traz-me o lanche, o meu irmão pequenino aquece-me os Cavalos nas corridas e quando está aqui de férias monta a Cavalo comigo, o meu irmão Luís sai comigo de bandarilheiro e é capaz de ir na camioneta se não houver espaço no carro, o meu pai também está sempre por perto….são pessoas que vivem muito a minha carreira.
Quero ser uma figura do toureio, tenho hipóteses e qualidades para o ser de uma forma sólida e feliz. É esperar pelas oportunidades para concretizar.
Ana Paula Delgadinho