E nada nos enche mais a alma, que voltar às corridas de toiros, encher praças,
ainda que com máscara, vontade de mandar
todas as regras da dita etiqueta pandémica às urtigas e abraçar todos os que
são nossos de alguma forma.
Neste farol no nevoeiro que tem sido esta pandemia, uma bolha de oxigénio
para nós, taurinos, podermos respirar e voltar a sorrir. Há uma semana, acontecia Mourão. Foi em cheio, cheio de amizades e convívio. Carregado de ganas, instinto e candura. Que é isto tudo de sermos humanos. Fazer dos amigos família e aprender a viver! Se é que alguma vez se ensina ou se aprende.
A esta altura, todos estamos com falta de tanta coisa nas nossas vidas,
mas a grande saudade que nos une, é a de Emborracharse de buen toreo.
E em Mourão, acontece tudo, a corrida, o almoço campero, a alegria de rever amigos em cada carro que vai chegando às portas da Libânio Esquível, o ambiente, as pessoas, o Alentejo!
Até Nossa Senhora das Candeias esteve connosco. Se estiver o Céu a rir, está Inverno p´ra vir, se estiver a chorar, está o Inverno a passar!… Delícias de uma memória colectiva.
É sempre uma alegria, e nem o salto em queda livre daquelas duas figuras miseráveis à arena, incomodou assim tanto. E só se perderam as que não levaram!
Carregadinhos de arrogância, julgam-se superiores aos do interior, ignoram as suas procissões e tradições. Amantes de peludos aprisionados em apartamentos, possuem elevada autoridade moral, portanto. Ridículos.
Isto em pleno “rescaldo” ainda de eleições, muitas surpresas, ou não, mas a dos túneis/ estufas, não anda em maré de sorte, que pena… É no que dá, um partido sem substância, sem espinha dorsal, apenas com um grande ódio que sobejamente conhecemos. Olhem, boa sorte e até nunca!
Ah, e deviam ler mais, por exemplo, uma das brilhantes reflexões do admirável e sempre apaixonado Dr. Joaquim Grave: “Não me canso de dizer que o futuro do toureio estará a
salvo quando a nossa realidade ecológica imprescindível seja conhecida,
compreendida, aceitada e positivada pela sociedade portuguesa. (…) Esta é a
nossa arma secreta e por muito que nos surpreenda, ninguém a conhece. Hoje
não nos reconhecem como ecologistas, mas sim como mal tratadores de
animais.”
Agora aprendam, se conseguirem!
A Tauromaquia é um sentimento, uma forma de vida, com valores
herdados dos nossos antepassados, respeito, trabalho, sacrifício,
superação! Parece-me uma grande dívida!
Gostava de perguntar a esses de ideias absolutas e autoritárias, quantas
vezes estariam dispostos a pôr em risco as suas vidas? Se em vez de
estarem sentadinhos na suas secretárias, cada dia que saíssem para
trabalhar, pudessem morrer?
Porque não saltaram aquelas duas figuras enquanto estava o touro na arena?
De imbecilidade, disto vamos morrer se nos descuidamos, e não da pandemia.
A tauromaquia é o exercício de liberdade de um ritual, com um sentido
profundo, mas que enfrenta uma sociedade que quer ser asséptica, inodora e
incolor, e que estamos a ser engolidos pela globalização por uma cultura que
não quer falar da morte, quando a tauromaquia é vida e morte. Tudo se resume
a uma leitura superficial e hipócrita…
E sim, é muito mais fácil não dizer nada ou só falar de banalidades, de vídeos muito engraçados, infantilizar a vida para suavizá-la. Até aqui tudo bem, descartar para desresponsabilizar, nem que seja uma opinião.
E vem aí o Dia da Tauromaquia, digam o que disserem dos dias de, do local, etc., (lembramo-nos sempre dos azedos, é inevitável), esperemos que com uma assistência que nos encha o peito de tanto orgulho e felicidade.
E depois Olivenza, com a sua luz imensa, e não é só esta aurora, é a mensagem que tem imensa pinta – isto é que é assunto de peso, e um mundo para fazer e virar do avesso.
Não há nada mais inspirador, e que nos ponha mais no nosso pequeno lugar, que o talento de pessoas bonitas em terras bonitas!
Ester Tereno