Uma corrida que estava, tendencialmente, esgotada pela figura muito admirada em Portugal de Pablo Hermoso de Mendonza, ficou-se por uma casa quase cheia no Campo Pequeno, para ver o rejoneador dobrado por um grande matador que teve uma prestação triunfal na Feira de Sevilha e que não desiludiu ninguém na nocturna lisboeta: António Ferrera.
Uma vez que Hermoso de Mendonza sofreu um percalce grave nos seus treinos e ficou impossibilitado de tourear no Campo Pequeno, a opção da empresa foi audaz, ao trocar um cavaleiro por um espada. Do meu ponto de vista, uma escolha inteligente e agradável apra o público, pois por um lado o Pablo é, a nível equestre, de substituição quase impossível e por outro lado, porque faz singrar o valor do toureio a pé em Portugal. Foi, portanto, uma atitude na linha a que Rui Bento já nos habituou: a de quem vai ficar na História tauromáquica como a pessoa que mais contribuiu para a recuperação do toureio apeado no nosso País. Por isso, deixo-lhe o meu bem-haja!
Em termos de corridas tivemos em praça um curro de António Charrua que não deu complicações aos cavaleiros João Moura Jr e Miguel Moura; bem como os Manuel Veiga que saíram para António Ferrera permitiram duas lides de grande nível, sendo melhor o primeiro do lote.
João Moura esteve em grande na sua lide, em especial ao primeiro da noite e Miguel Moura mostrou-nos um toureio com imensa personalidade, em ambos oponentes.
O jovem cavaleiro de Monforte fez uma primeira lide muito ‘mourista’, a usar e abusar do ladeio e com cites ao piton contrário de bom tom. No seu segundo, João Moura tivemos mais do mesmo e fechou a lide com um ferro de palmo bem cravado.
Miguel Moura tem uma criatividade mais própria relativamente à Dinastia que representa, tendo com o primeiro touro mostrado elegantes cites e uma cravagem correcta. Já com o segundo oponente que teve nesta noite, destacou-se da sua actuação os cites ao piton contrário de excelente execução.
As pegas estiveram a cargo dos grupos de Lisboa e de Évora, tendo sido de boa nota a forma como todos foram pegados, mas destacando-se, pelo grupo da casa, João Varandas, que fez uma pega a lembrar Salvação Barreto, sem as ajudas na arena, que se consumou ao segundo intento e mereceu duas voltas à arena.
Lisboa pegou indo à cara Pedro Maria Gomes, à primeira tentativa, e João Varandas. Évora avançou na cara dos touros com António Alfacinha e com João Pedro Oliveira, ambos ao primeiro intento.
Ferrera encantou-nos com o bom momento do seu toureio, tendo no primeiro touro uma ligação de grande nível desde o capote, e encontrado um touro mais irregular no seu segundo da noite, ao qual, mesmo assim, conseguiu arrancar bons muletazos. Destaque para boa faena por ambos pitóns no primeiro touro. As bandarilhas neste touro foram superiores às que cravou no seu segundo.
E o que fechou a noite do Campo Pequeno foi menos luzido, Ferrera entendeu bem o touro e não pode esmerar-se no capote, mas deu tudo por tudo na muleta, apesar de não se ter conseguido estabelecer uma boa ligação com os tendidos por falta de presença na investida do Veiga.
Nesta corrida houve ainda uma digna e merecida homenagem aos 125 anos da Real Tertúlia Tauromáquica Portuguesa.
Sílvia Del Quema