João “O Grande”
João “O Destemido”
João “O Irreverente”
João “O Valente”
João “O Bravo”
…. e podia continuar por aí fora, todos estes cognomes e mais alguns, lhe assentam que nem uma luva, ainda assim, nenhum deles bastaria. Sim, que este nome, só o nome per si já chega para que toda a gente saiba de quem estamos a falar, e nisto, nem os mais tradicionais, ou apenas azedos ou só mais amargos, podem discordar. Da sua importância nestes últimos 40 anos de alternativa. Já 40, não é brincadeira nenhuma!!!
Somos todos iguais? Não somos: alguns de nós são mesmo mais capazes. E ele é!
Com algum receio em escrever sobre esta Grande figura, a responsabilidade, o peso, ainda assim vou tentar fazê-lo, da forma mais digna e respeitosa que sei e consigo. E se há coisa que gosto de fazer é apresentar e falar de pessoas que fazem um mundo ainda melhor, e que admiro tanto!
João António Romão de Moura, sobrinho do ganadeiro Cláudio Moura e filho do equitador de competição e cavaleiro tauromáquico amador João Augusto de Moura. Nascido em Monforte, faz a sua primeira apresentação na Praça de toiros de Portalegre, tinha apenas 7 anos! Aqui começa a sua própria história… e três anos depois, a 24 de setembro de 1970, debuta na Monumental do Campo Pequeno, num cartel de figuras composto por João Branco Núncio, José Mestre Baptista, Manuel Conde e Luís Miguel da Veiga.
Já com 150 atuações como amador em Portugal, parte em 1975 para Espanha, mais uma vez arrisca (era menor, e por cá não havia hipótese de se profissionalizar), e apenas um ano depois, debuta em Las Ventas, que fenómeno! Se calhar teríamos ganho um excelente Veterinário, plano B caso as coisas não corressem de feição, mas penso que todos agradecemos o facto de ter ficado pela tauromaquia!
Montando o célebre Ferrolho (ai os seus cavalos… nem saberia por onde começar para tentar que fosse descrever a sua importância nesta bela caminhada do Mestre), ganha o prémio António Cañero, dado ao cavaleiro triunfador da Feria de San Isidro. Não se tornaria a repetir, o prémio da feira taurina mais importante do mundo, ser entregue a cavaleiro tão novo! Pois que aos 17 anos apenas, encabeça o escalafón ibérico, um autêntico prodígio! E viria a abrir a Porta Grande da Monumental, mais 9 vezes, uffffffff!
De volta a Portugal, recebe a alternativa de cavaleiro tauromáquico, a 11 de Junho de 78, sendo seu padrinho David Ribeiro Telles e testemunha Mestre Batista. Já nos anos 80, vai em digressão pela América Latina, e em 94 volta a fazer o mesmo, lidera o escalafón!
Vê o seu caminho reconhecido pelo Presidente da República Mário Soares que o fez comendador da Ordem Civil do Mérito Agrícola, Industrial e Comercial e a quem Juan Carlos de Espanha atribuiu o prémio da Real Federación Taurina de España para Mejor Rejoneador.
Revolucionou isto tudo, em bom e em cuidado e em exigente e em estratosfericamente belo – que reinventou uma arte e os alicerces da tauromaquia nos anos 70, 80, 90, etc. Apetece lembrar o seu legado, aquele que rompeu algumas das regras clássicas do toureio a cavalo, um estilo menos convencional (lá está, sempre arriscou). Seguiram-lhe os passos, inspirados por ele, os brilhantes, Diego Ventura, Pablo Hermoso de Mendonza, etc., capazes de continuar tamanha magia.
Ninguém pode discordar de que é um marco importantíssimo, tem que se reconhecer o seu imenso valor, este reconhecimento é o que nos distingue, os bons dos maus, os capazes dos não e os maiores que os outros. E mais valentes, e mais corajosos e mais tudo! Basta pensar no arrojo á época, trazer um toureio assim, tão diferente, insolente! Uma belíssima dose de coragem!
E que felicidade, saber que existem o João Moura Jr., o Miguel e quiçá o Tomás, a seguir de forma notável, os passos de seu pai, o seu legado estará por certo protegido.
Caminhada de seriedade, triunfos, humildade e perseverança. Celebremos então tudo isto, 40 anos de tanta entrega, compromisso, sucesso, amor pela tauromaquia de uma figura inigualável! E agradecemos tanto tudo isto…
Mas fica a mensagem: queremos mais Tauromaquia, fora de tudo o que já vimos, com garra, dedicação, esforço e entrega.
E relembrar todo este legado, aparece-nos inesperadamente como um abraço antigo.
E por falar em antigo, segundo o Romano Cornélio Tácito: “Não há atractivo no seguro. No risco há esperança”, e todos sabemos que os Romanos sabiam muito…