Querido Mundo em geral e “Estados” em particular, e “Ministrinhos-não-sei-das-quantas” escutem lá uma coisa: sem cultura e sem arte, a vida é biologia e contas para pagar.
Mesmo que não ousem reconhecer sequer a palavra T-A-U-R-O-M-A-Q-U-I-A.
Na arte estão as ideias, a partilha, o humanismo, a sensibilidade e a mudança. Uma boa parte da inteligência e humor.
Uma sociedade mede-se pela medida como trata os seus artistas, na ignorância de os considerar animadores secundários, ou na forma polida como os assegura fundamentais ao pensamento, à beleza e à liberdade. Todas as sociedades genuínas cuidam dos seus artistas.
A tauromaquia escolheu-me, tive essa sorte, por isso cresci a observá-los, a ouvi-los, a conversar com eles, alguns têm um mundo rico, complexo, muitos fazem o mundo avançar. Eles vão à frente e chegam antes de nós.
E não sofrem de nenhum tipo de bondade artificial ou superficial, mas sim de um resgate dos princípios, dignidade e humanidade.
E precisamos de todos, desde os poetas, aos cantores até aos toureiros! E se todos têm uma opinião sobre o trabalho destes últimos, e não é pouca! É como no jornalismo, todos têm uma opinião sobre o trabalho dos jornalistas. Exceptuando os professores que foram escolhidos para a tele- escola, sem qualquer noção de ambas as partes, os jornalistas são o alvo dos novos serões apocalípticos. Canso-me de ouvir observações tão abalizadas por exemplo, sobre o tom do Rodrigo Guedes de Carvalho ou se a entrevista é bem conduzida – e em última análise são todos uns vendidos manipulados e manipuladores.
Nem com o advento das fake news da feira da internet, e agora a pandemia, isto parece mudar. O que é curioso porque o mundo da comunicação, e em particular o jornalismo, é das profissões mais cobiçadas. É onde se colam os que queriam ser políticos, os que querem ser escritores, os que acham que é feira de vaidades (os bloggers começam por brincar ao jornalismo, mas depois lá percebem que dá muito trabalho e pouco dinheiro).
Mais do mesmo portanto, sobram os melhores, até perco a conta de tantos dos melhores que conheci hoje submersos por uma concorrência de lambe-botas e bolas-baixas, males que me provocam tanta urticária e em graus elevadíssimos.
Já nem falo das Relações Públicas – toda a gente acha que percebe de comunicação, como toda a gente acha que percebe de fotografia ou faz vídeos muito lindos ou que a sua opinião tem relevância. Claro que acredito nos self-made, muito, mas os mesmo bons são sempre muito poucos.
Mas no mundo da Tauromaquia não há tanto espaço para estes “quero-ser-e-parecer”, a coisa fica mais difícil. E sim, também é uma forma de fazer cultura, a mais nobre de todas por sinal. E de pensar e sentir. E claro que o mundo se renova e mesmo que dê um passo atrás, esperamos que seja para ganhar balanço – mas algumas coisas nunca mais voltam a ser as mesmas. E é disto que tenho medo. E não vale a pena inventar. E não vale a pena empurrar os problemas com a barriga e fingir que não existem.
Mesmo os mais optimistas quase a roçar o doentio – como eu, se comovem com uma pausa na modernidade, não “evoluir” tanto, se é que me faço entender.
Ás vezes fica-se sem palavras, e nem é por ser uma catástrofe, a vida pode ser uma calamidade, mas por todos encolhermos os ombros.
Talvez seja nesta altura, se for bem aproveitada, que vai chocalhar tudo o que não pertence e evoluir. Que se vai finalmente perceber que mais do que segurar os interesses que moldam sociedades para o conveniente verde e animalismo barato, seria melhor investir nas pessoas. Ainda mais nas movidas a talento e arte, porque são quem nos reinventa todos os dias!
Alguém um dia escreveu: “isto de tudo valer o mesmo é um grande perigo”.
Vivemos na era da pandemia e na era da falta de noção. Pode ser que uma resgate a outra. Era um bom recomeço.
Pois somos mais Extra, que Ordinários!
Ester Tereno