Mais uma vez, e digo mais uma porque estou sempre a dizer que tenho muita sorte, tive a sorte de ir a Sevilla. Podia ter ido a mais, mas uma já é uma sorte, há quem não tenha podido ir a nenhuma. Mais sorte ainda de ter podido assistir a um “corridão”, Miura! E sim, estou sempre a falar em magia… mas acreditem, como nos chocolates, há umas magias que valem mais a pena que outras…
Por mais voltas que dê a Sevilla, nada se compara ao descanso profundo e ao mesmo tempo a agitação bendita da Praça de Touros. É como se nas suas paredes antigas e espontâneas, algumas ainda em pedra, ecoassem as muitas vidas, os muitos espetáculos, a sequência interminável de emoções das multidões que por ali passaram, deixando um lastro de paz e de futuro. E ali, sempre me emociono. Não sei explicar, mas tenho a certeza que o francês que estava ao meu lado, também não o conseguiria. Apenas estar ali, a ver, absorver, e ter a sorte de naquele momento não pertencer a mais lado nenhum, senão ali mesmo.
Há ali qualquer coisa “fora da Lei de Deus”, como diz alguém que conheço.
Este ano as golondrinas estavam mais tímidas, talvez por o céu não estar no exacto tom de turquesa que lhes serve de pano de fundo por estes céus do Sul.
Dia de Miuras, nome tão importante na tauromaquia, a conservação de um legado centenário, sempre fiel ao seu conceito de touro bravo.
Nenhuma outra ganadaria brava leva tantos anos nas mãos da mesma família, e se calhar este é o segredo! “Um metro de pitón a pitón”, conhecidos por terem os pitons muito abertos, são altos, largos, conhecidos pelo seu peso, são estampas espectaculares! Mais do que todas as características, a sua personalidade própria, é o que os distingue.
Disse algures don Eduardo Miura, “el toro nuestro no es que sea más difícil, es que es diferente, mantiene una personalidad propiá”. Por isto, saiam mais ou menos bravos, são sempre esperados com grande ilusão!
Muitas figuras do toureio se consagraram com os touros Miura, Joselito, Belmonte, Paco Camino, Manolo Cortés, Ruiz Miguel, José Antonio Campuzano, Esplá, etc…
Muita coisa mudou na Festa, mas os Miuras continuam, como exemplo de touro sério, encastado e singular. E o touro bravo deve continuar a ser o elemento essencial da corrida!
Bom, mas esta foi a tarde de Pepe Moral e Manuel Escribano, entre portagayolas, naturales, duas orelhas, ovações e para remate, chuva, nada me faria pensar que estaria melhor noutro lugar que não aquele.
E com a entrega destes dois Senhores com “S” grande, dou por mim a pensar que devia haver multiplicação destas pessoas no mundo.
Que barbaridad!
Até a chuva foi sublimemente adequada á tarde! Disse Emilio Muñoz quando começaram a cair as primeiras gotas: “esto son como melones, son de miura!”
Há coisas que não se aprendem, nem podem ser copiadas, altruísmo, bravura, valentia e elegância, e isto tudo vem grátis com um simples bilhete para uma corrida. Quem estiver esquecido de algum destes valores, ou não o conhecer até, pense no assunto.
Foi uma tarde de glória, arrebatadora, com pessoas reais, com aquela grande pinta que não se aprende com as tendências, muito menos com tutoriais.
Sei que tenho uma visão “cor-de-rosa” das coisas, uma marca que irrita algumas pessoas, e sempre haverá quem ache que isto não é nada assim, que nem sequer faço crítica taurina, etc. Nem quero! E sim, quero continuar no rosa e não no preto, escuro e sombrio da maledicência por si só e gratuita. Continuar a pensar desalinhado do tradicionalmente e já muito gasto nesta área, fora das molduras que rapidamente servem mais para fixar do que para compreender. Apenas desconstruir as visões feitas, bombardear lugares comuns, apenas pensar é já um exercício radical de responsabilidade. Escrever textos leves, mas com alguma pertinência para além do fogo-de-artifício da celebridade vazia e da patologia superficial do entretenimento e dos likes.
Volta e meia pergunto-me porque temos que ser tão mauzinhos uns para os outros neste meio? Se já somos tão poucos! Mas não vou estar a insistir no mesmo.
Não somos nada sozinhos, e enquanto não nos capacitarmos disto á séria, nada feito meus amigos, não vamos a lado nenhum, digno, porque os outros lados não interessam para nada.
Por agora vou continuar ainda com este sabor na boca, M&M’s- Magia & Miuras