Uma barafunda bela de padrões e estéticas e cores e que achávamos inconciliáveis e exorbitantes e que são, no fundo, o jardim das delícias e uma metáfora das nossas vidas. E assim foram os últimos tempos, por cá, carregados de eventos, e coisas novas e menos novas, mas carregados, e é só isto que importa. Ainda que por vezes, quase em simultâneo.
A Matança do Porco da Tertúlia da Alagoa a 16 Março, perseverança, a Charla no bar o Picador na Nazaré a 16 Março com Maestro Mário Coelho, tanta afición, Festival Taurino, o décimo da história da Rádio Campanário, comovente homenagem a todos os que nos deixaram, com o fado “Avé Maria”, interpretado por Teresa Tapadas, pena que fosse em meia casa…
Depois vemos um grupo de pessoas e voltamos a acreditar no grande mistério da existência – e confirmamos que, afinal, estamos certas quando preferimos os românticos, os lunáticos, os que pensam fora da caixa, os que têm coragem de fazer, os corações curiosos, os artistas de alma, os pensadores incansáveis. E assim aconteceu Santarém. Um grupo de pessoas extraordinárias, que não conheço mas já admiro, juntou-se num momento e mexeu com uma praça e com uma forma de fazer cultura. E de pensar e sentir.
Esperemos que os deixem continuar a fazer-nos felizes e mais evoluídos, e que sejam altamente imitados. Não sei como o fizeram, mas conseguiram, obrigada, muito mesmo, valeu! E que a nossa resposta, de quem não entende nada de organizar corridas, continue a ser encher praças!
Depois vêm as “Fake News”, sim, o mundo dos toiros também não escapa, e nem vou tocar no miserável acontecimento que envolveu o Maestro Chibanga!
Não entendo nada de jornalismo, mas isto é tudo menos honrar a profissão! Então, como quem não quer a coisa, um bando de gente ordinária, condiciona, atraiçoa e inventa uma centena de manifestantes “anti” em Santarém, quando na verdade se resumiam a pouco mais de meia dúzia de miseráveis, suprema vergonha! A TV foi o que se sabe, a imprensa e internet, deu ênfase a nomes de participantes e suas comoventes histórias “Medo, Horror e Sangue”, indignados com o uso de dinheiro dos impostos “em bilhetes de touradas”, e nem me vou alongar mais com os argumentos desta gentalha. Ora num país com tradição de confissão ao “sô prior” e de “não-vale-a-pena-refilar”, “excepto-em-ano-de-eleições”, não podemos continuar com o “encolhe-ombros-e-não-lhes-dou-importância” costumeiro. Valha-nos a coragem da Câmara Municipal de Santarém, de louvar quando a política local faz o que é suposto, defender e apoiar a sua cultura, e disto percebo um bocadinho grande.
A passar no horário dito nobre e em dois canais nacionais nada isentos ao mesmo tempo. Modo estupidificação de massas. O que envergonha mais é a oficialização do discurso do preconceito: como se alimenta a mentalidade atrasada, o enxovalhanço gratuito dos outros num país dito respeitador de diferenças, que vergonha!
Melhor rir para não chorar.
Não sei se já repararam que entretanto o político social do faz de conta, levou outra vez á Assembleia Municipal de Lisboa o assunto, debater o fim das touradas no Campo Pequeno??? Um assunto que tinha ficado “resolvido em Julho”? Até o Presidente da Câmara, que infelizmente faz questão de se demarcar desta causa, o acusa de “tentar fazer entrar pela porta do cavalo” o que não conseguiu “pela porta principal”. Salvo um par de excepções, todos a favor, e se isto não vos assusta… E pela porta do cavalo e de fininho também, se nos descuidamos, nas próximas eleições elegem mais um deputado!!
Raios!
Os bombardeamentos na Síria, a fome na Venezuela, a desgraça por Moçambique ou os esquemas da corrupção podem ser – corridas de toiros é que não. Imaginem se fossem de morte! Obrigada TV e imprensa por continuarem a elevar os padrões. Vamos “masé” todos para o Instagram ou Facebook onde só se mostra o lado onde o sol bate e em modo pensamento nulo. Não dá trabalho, e é grátis. E ainda dá para pôr um filtro daqueles e fica tudo muito lindo.
Ai, esperem, voltei a pecar: uma rapariga não é suposto refilar, não é?
Bolas, na Idade Média já havia quem não quisesse esta linhagem perversa e pacóvia da maioria, das modas, o lado dissimulado das ditaduras com as suas lavagens cerebrais em massa.
Ainda não sabemos onde vai dar tudo ou nada, mas o espírito é esse mesmo, abertos e curiosos, vamos até ao limite do desconhecido e viramos a chave, mas sempre com uma fé inabalável de que as coisas resultarão no melhor, para nós, mas com o nosso empenho e nunca com a nossa conivência!