Gosto das pessoas que gostam das suas terras, gosto mais ainda dos que não têm vergonha das suas tradições, e ainda mais dos que as mantêm!
Por muito arriscado que seja falar em festas que não as “minhas”, mas por já ter ido tanta vez e mais, ter a sorte de ter tantos amigos Vila- Franquenses, já as considero um pouco minhas e arrisco!
Tenho um fraquinho por palavras e regiões que terminam em “tejo”, parece-me óbvio, já se sabe…
Ribatejo, é uma história com mais de 800 anos, que migrou e subiu o Tejo, cruzou as suas margens, e já não existe como unidade regional, mas…. Se há algo que nos faz ter sentimentos de pertença, são estas mesmas regiões, e os ribatejanos sentem bem isso!
E falar em Ribatejo, é falar em Lezíria, Campinagem, Touros, Tertúlias, mas não se fica por aqui, tem tanto mais para sentir… E falar em Ribatejo, inevitavelmente, fala-se em Vila Franca de Xira!
E esta terra em especial, vai entrar em festa já no início de Julho, ora bem, o Colete Encarnado, pois claro. E encarnado como os coletes dos Campinos, figura primordial, de 6 a 8 de Julho, vai já na 86ª edição! A exaltação da festa brava, da cultura ribatejana! Com as Esperas e Largadas de Touros nas ruas de Vila Franca de Xira, entrega do Pampilho de Honra, desfile de Campinos, as Tertúlias e a noite da Sardinha Assada! Mais ainda, o Maestro José Júlio, Vila-Franquense pois com certeza, vai ser homenageado com um merecidíssimo busto!
Não podiam faltar, as corridas na Praça de Touros Palha Blanco, a 6 com a Corrida das Tertúlias, corrida á Portuguesa, a celebrar o 70.º Aniversário da Ganadaria Vale Sorraia, a 8, outra bonita Homenagem desta feita, à Ganadaria Palha, no ano em que esta comemora 170 anos da sua fundação, com uma corrida mista. Pelo meio das duas, a tradicional Garraiada da Sardinha Assada!
Mais, a singularidade e retoma de tradições, não tem valor… No passado dia 23 de Junho, realizou-se a tradicional Romaria à Igreja de Nossa Senhora de Alcamé (aportuguesamento da palavra árabe-marroquina de fonética “achmé”, significando trigo). Ou seja, Nossa Senhora dos Trigais.
Esta Romaria tem uma importância extrema na história de Vila Franca de Xira, momento em que as pessoas do campo e da cidade se juntavam, para agradecer a Nossa Senhora, e pedir a bênção para um novo ano, na Ermida de Nossa Senhora Alcamé. Foi mandada construir em 1746! Que lenda tão bonita, há quem diga que é a padroeira dos Campinos! Mesmo que não seja, só o fazer parte da história de uma tradição destas, não tem preço, ora espreitem um bocadinho deste fado:
Uma Serpente enganadora
Rastejava ali na hora
E o Campino atacou (bis)
De mãos postas ele grita
Nossa Senhora aflita
Por esse é a primeira
Essa serpente pisou
O Campino exclamou
Serás Nossa Padroeira (bis)
(Excerto do Fado de Nossa Senhora de Alcamé)
Não é bonito? E para sermos capazes de dar valor a tudo isto, temos que perceber a volatilidade de todo este mundo de tradições, tome-se como exemplo a Póvoa de Varzim. Caiu, por vontade de um Edil (se há coisa que não me cai bem, são pessoas que não valorizam todo um património cultural que representam, estou mal habituada, sei bem disso), ora a História, quer se goste ou não, não pode ser apagada! Enervam-me! A ver se a “coisa” ainda tem volta a dar…
Gostar de touros é uma opção nossa, e nada tem que nos envergonhe como muitos querem! É uma opção, não nos faz nem melhores nem piores que ninguém, apenas nos faz mais felizes! E somos politicamente correctos demais, mas esta noção está por muitos ligeiramente distorcida.
Ora, o politicamente correto é apenas uma forma de normalização de massas, muito bem pregado pelo nosso País, por sinal, é só irritante, porque é aquele “vernizinho” (que ás vezes estala), aquele fingimento social que nos ajuda a coexistir em cima uns dos outros aqui neste cantinho. O gostarmos todos do mesmo, ouvir as mesmas músicas, vestir igual, perder brio em quase tudo, ir aos arraiais e festarolas que voltaram a estar na moda (mas sem a barbárie de touros claro está), o deixar de dizer bom dia no elevador, o poder dizer tudo a toda a gente, o passar um belo Domingo num Shopping qualquer ou na praia, não há mais que isto, e por aí fora…
Agora, qualquer coisa que se diga é sentenciado imediatamente, na hora, por sumidades da razão e conhecimento.
Na era da internet e de tantos pensadores de bancada que nunca leram os grandes, nunca houve tanta censura. Sim, censura! E se muitos dizem que os “anti” não constituem ameaça, que o melhor é não dar importância, honestamente, penso exactamente o contrário!
Medem-se argumentos, pesam-se palavras, julgam-se vidas com uma ligeireza que adora ser acendalha de maniqueísmos – mas que se esquiva a debates realmente sérios e inteligentes sobre temas que a todos dizem respeito, neste caso, a nossa festa, toda ela.
É uma canseira ter que defender uma paixão, de quem nada disto entende, nem poderia, e quaisquer boas intenções soçobram. O primeiro nível é o: “deixa lá isso” ou “não é bem assim” ou mesmo “não ligue, o melhor é não dar importância”. Mas os neutralizadores ainda são como o outro, é resposta de rebanho, apaziguadores de almas, pior, pior mesmo, são os de dentro que nada fazem para a união, e que a minam até…
Por tudo isto adoro gente que se une para manter tradições, e por muitas voltas que o mundo dê nunca me habituarei a pessoas que aprendem a (con) viver com a superficialização da vida e acatam o que as incomoda apenas porque dá menos trabalho (tenho cá para mim, que deve ser genético).
Com isto, não podia deixar de falar nas marchas populares de Lisboa, na da Mouraria! Não sei quem foram os mentores/ autores, mas ganharam pelo arrojo, coragem, a defesa da Tauromaquia com um quadro excepcional, sem caroços e sem medos!!! Tamanha valentia nesta tal era do politicamente correto (que para uns é ser apenas anti qualquer coisa), merece muita consideração!
Convidem os amigos para um copo e um petisco numa tertúlia qualquer (aproveitem que não tarda vira gourmet), bebam vinho e falem de tudo, e divirtam-se muito, sem filtros e sem tretas. Há lá coisa mais saudável que um ambiente destes? É uma festa rija, é Ribatejo, e se não assegura a felicidade, faz muito pela alegria e união e tomada de posição com muita diversão!
Todos a Vila Franca de Xira!!!