Não adoram uma boa Filosofia de bolso? Normalmente espelha-nos, adorável e impiedosamente…
Nem será preciso falar outra vez da escola de valores que é a tauromaquia, nem da importância de a manter viva!
Sobram palavras para o impressionante momento em Santa Maria de Querétaro, Felipe Martinez, protegendo o seu irmão, o novilheiro Francisco Martinez, o verdadeiro valor da tauromaquia, sem corantes nem edulcorantes, vida ou morte, amizade ou não. Se esperamos sempre que a sorte goste de nós, que dizer de tanta vez que aqui o medo se cruza com a arquitetura do lado de lá…
Não se trata de nenhum tipo de bondade artificial ou superficial, mas sim de um resgate dos princípios, dignidade e humanidade.
Precisamos de todos, agricultores, pensadores, desenrascados, maquinaria q.b., tecnologia em prol da evolução, pessoas que sabem fazer pão e que adoram animais (na sua essência e não só no apartamento), e que entendem como nasce o sol. Mais importante que um ano de crescimento seria um ano de consciência, consciência do que não volta, do que se está a perder, Alverca também caiu…
Uma das poucas coisas que me dá urticária, a pasmaceira: pessoas moles e apagadas, projectos sem ambição, ideias pobres, vidas paradas e sem fibra.
A bem da bondade, aquela que nos criou de alguma forma e qual não me atrevo a discutir ou questionar, há ainda quem não cedendo apenas ao show off, faz coisas de arrepiar!
Grande grande, mas enorme Enrique Ponce, doou os honorários da corrida na Monumental da Cidade do México no passado 3 de Dezembro. Direitinhos para a Fundação Carlos Slim, carregados de emoção depois do fatídico terramoto.
Tanto ego que cresceu, até ficar em bicos dos pés a tentar dar nas vistas entre a multidão. Joga-se à vedeta, aos chef’s, aos dj’s ou aos toureiros. Às vezes tem piada, na maioria, é só banal. Toda a gente se acha capaz, não, não é.
Mas há um “par” deles (felizmente muitos mais), abençoada geração de artistas, com uma magnífica suspensão sob a luz das arenas, sim, mas também a partilha, a fragilidade e o comprometimento, a graça e a generosidade, a verdade dos touros.
Outro, Miguel Ángel Perera, doará os honorários de uma corrida da próxima temporada para financiar um projecto de investigação da Universidade de Sevilla. Anunciado num acto de homenagem aos 90 anos do movimento intelectual “Geração de 27”, a 13 de Dezembro. Assumido o compromisso, a continuação na busca de uma maior ligação com as artes, Perera assume-se “homem da cultura”, resultado da sua condição de toureiro, e fará a doação pela fé que tem no futuro e no conhecimento, uma forma de retribuir algum do legado que aquela geração deixou. Aqui, entre outros, foi distinguido o muito aficionado e amigo presidente do Centro Cultural de Belém, Elísio Summavielle.
Lá está, apenas aquele segundo místico em que somos mais humanos, e todas estas atitudes, e atitudes cansam e dão trabalho, fazem-nos acreditar em tudo outra vez, e reencontramos a nossa verdade.
Algumas pessoas são mais evoluídas do que outras, por muito que nos custe, e deviam repetir-se muitas vezes na existência.
E para alguns de nós, com a sorte de andar por aí a tentar escrever (enquanto existir quem queira ler), sobre o talento e a beleza da vida, e suas entrelinhas, é uma delícia ver esta novela contínua que são corridas de toiros.
Muitos acham que ser optimista, e ter visão lírica das coisas é sinónimo de ingenuidade e consequentemente, de pequenez. A continuar a ser ingénua – um defeito para uns, qualidade para outros, mas que cada vez admiro mais nas pessoas -, que seja nestas coisas de gente pequenina.
E liricamente, na dose certa, acredito estarmos bem entregues, isto é para vocês, novas gerações!
Há uns anos, a tentar estudar arte, esbarrei com Dali e a sua vida fascinante. Na altura, retive uma das muitíssimas frases brilhantes deste senhor que, de tão magnífica, nunca me esqueci: ” En una tarde de toros puedes morir de gusto o de susto”. Dizia Salvador Dali
Que seja um ano de Puerta Grande para todos nós!