E a última da temporada do Campo pequeno foi casa cheia, que felicidade! E o Campo Pequeno vai mudar… de mãos! Inquietações! E antes tinha ido a Zafra, ver o meu toureio a pé… E nestas duas, de todas, estas duas… Senti-me pairar solitariamente como uma alma que se desprende do corpo, suspensa na inevitabilidade. Odeio drama e solidão, e mantive-me silenciosa a vê-los, adivinhassem eles as coisas que descobri dentro de mim, da minha estória, só a ver a sua arte tão cheia de classe e de repouso.
E aconteceu a merecidíssima Homenagem Mário Coelho! Digam o que disserem, admiro profundamente os raros corajosos que só descansam numa vida maior que eles próprios. E este Senhor fez a Tauromaquia entendida sem tempo e para o mundo.
Quando soube do vandalismo na Sede da Tertúlia Festa Brava na Azambuja, desceu sobre mim um inverno, logo eu que detesto frio… Como e quando é que voltámos aos tempos das trevas, que eu não dei conta?
E Las Ventas, em Madrid, sempre cheia sem lamentos e festa na cidade, uma praça com tudo lá dentro – e uma elegância de gentleman, uma poesia de aldeia. E todos lá a celebrar a vida, contra tudo e todos.
Indicadores de uma festa sã e em crescentes, e depois perseguições e tentativas de proibições a torto-e-a-direito, onde ficamos?
Não quero nada que as minhas crónicas sejam de desgraças, mas morte e nascimento são flexões de vida, embora nos custem sempre mais os fins que os princípios. E os entretantos são feitos de percalços, não posso deixar de mencionar os heróis Gonzalo Caballero, Mariano De La Viña, Javier Cortés e ter a certeza que todos eles e o Maestro José Júlio e Luís Procuna, vão vencer mais estas cornadas!
E entretanto, os nossos amigos Franceses continuam a tentar ensinar-nos o que não queremos aprender. A idade mínima para assistir aos espectáculos taurinos, diz-vos alguma coisa? Por cá, já está no ar, por lá, após uma tentativa de interdição de menores de 16 anos assistirem a esses mesmos espectáculos, ele é manifestações devidamente organizadas todos os Sábados pelas Vilas Taurinas, um Manifesto proposto e redigido por um grande já retirado mas que investe e bem, Juan Bautista, em defesa dessa mesma liberdade e assinada por uns tantos outros grandes como José Tomás, Roca Rey e vá lá, Víctor Mendes, Rui Fernandes e Ana Rita! Mas que bem que defendem o que é deles… e nós? Até me encolho e fico mais baixinha…
Não adoram janelas? Assomar, espreitar, observar quem observa. É a alteridade, a curiosidade, a troca, mas também a ideia de levantar voo. Uma janela é-uma-cena-do-caraças, aprende-se tanto! Mas só para quem quer aprender, lá está…
Por cá parece que vai haver uma manifestação do mundo rural, organizada em pleno Facebook, já com mais de 20.000 membros, ok… Como tudo o que surge de forma espontânea, dá direito a inquietações, manifestação contra quê? A reivindicar o quê? E quem tem mão em todos? E será que vão os 20.000 e tal? Ou é só a típica pose do Tuga, vou e tal, ninguém me agarra, e depois… puffff, nada o demove do sofá… Não sei bem que ache de tudo isto, mas sei que os que tentaram fazer uma coisa do género, mas bem feitinha, com todos os que nos deviam defender e representar, não foi bem-sucedida. Se calhar o truque é mesmo este, não querer fazer nada “como ditam as regras”!
E não julguem que me esqueci das eleições… E quase perdemos o norte (já que a esperança não podemos perder). Entre saias, assentos e folclores, suposta extrema-direita vs. extrema-esquerda, tudo ridículo e sem palavras… Mas num mundo onde os miúdos que inventam blogues e são instagrammers e vivem disso e bem, à conta de partilhar tudo da vida, está tudo dito. Bendita era 4G que criou uma geração egocêntrica e sobrevivente do vale tudo. É abusar dos honestos e dos mais talentosos, que acabam por desistir. Assim, sair de cena discretamente passa a ser uma necessidade básica de sobrevivência, mais, de dignidade. E esperar que os fios da marioneta se mostrem um dia, diz que a vida tem sempre razão. Ou não…
E o famoso filósofo espanhol (ai a Catalunha…) Fernando Savater ganhou o Premio Taurino Ciudad de Sevilla, que organiza o Ayuntamiento local para reconhecer pessoas ou instituições que se tenham distinguido pela sua contribuição ao mundo do toiro, e diz ao El País: “El animalismo es una idea perfectamente justificada, una estética de generosidad, como decía Nietzsche (…). No todos los animales pueden ser mascotas. Y llegará un momento en que aquel que no pueda serlo, como el caballo o el toro bravo, desaparecerá, porque no servirá para ejercer sus funciones naturales. (…) Si los padres no llevan a sus hijos a los toros y se corta esa transmisión es difícil la permanencia de la fiesta. Todos los deportes, juegos o fiestas que tienen relación con el mundo rural, tanto los caballos como los toros, se van haciendo invisibles. Cada cual debe trabajar para que si la fiesta tiene que desaparecer que sea porque la gente se aburra y se aleje de las plazas, y no porque se la persiga o se prohíba”.
E não vos parece carregadinho de razão?
Esta minha relação amor-ódio com a tauromaquia, amo-a, mas sempre meu deu tanta dor de cabeça… Logo a mim, que não ganho nada com isso, apenas gosto de a saborear, e que não gosto de tomar Aspirinas!
A minha realidade é um nadinha diferente da do resto, não faz de mim, melhor ou pior, apenas diferente… Sempre nos cornos do toiro, basta mostrar o meu Cartão de Cidadão em qualquer lugar, é-o assim há mais de 20 anos… A bênção e orgulho que carrego e a maldição que muitos querem imputar a um nome, é sintomático e automático, como se de uma doença contagiosa se tratasse e distância de segurança fosse necessária, ou se de repente percebessem estar perante uma delinquente. Automáticas são também já as respostas sistematizadas: respeitinho-é-muito-bonito-e-a-sua-opinião-não-me-interessa-para-nada!
E quando o cansaço de tudo me tolhe, mas crente que a acalmia está por vir, não, piora! Nunca entenderei porque tenho que me defender de uma coisa que gosto e não faz mal a ninguém? E porque raio não vejo ninguém defender-me como deve ser e me sinto desprotegida “nisto”?
E dos cornos do toiro se trata, que eu saiba, o toiro não é só reactivo, investe! E nós investimos como?
Já dizem os outros, Red Bull dá-te asas, mas e os cornos? Não dos que servem apenas para enfeitar testas desprevenidas, mas daqueles necessários para investir de forma certeira e necessária, quem os dá?
Ester Tereno