Ora então já sabemos que a tauromaquia é o exercício de liberdade de um ritual, com um sentido profundo, mas que enfrenta uma sociedade que quer ser asséptica, inodora e incolor, e que estamos a ser engolidos pela globalização por uma cultura que não quer falar da morte, quando a tauromaquia é vida e morte. Tudo se resume a uma leitura superficial e hipócrita.
Até a maioria dos miúdos de agora não entendem que a carne do prato não é um produto final, mas que resulta de uma morte. Li algures que tudo começou baseado numa Ideologia de Walt Disney que coloca os animais como perfeitos substitutos do homem e ao mesmo tempo quase superiores porque são simpáticos, amáveis, uns fofos… O que inventam!
E não me venham já com a lenga- lenga do “dar importância a quem não merece” ou “não vale a pena estar sempre a falar no mesmo”, fico em brasa!! Nunca, mas nunca, conseguirei achar que não dar importância é o melhor remédio.
Sempre existiram ideologias atrozes ou ridículas, mas a mais moralmente hipócrita numa sociedade que se alimenta fundamentalmente de animais, é o animalismo, a mais ridícula de todas as ideologias do seculo XXI. Levados por interesses puramente comerciais, como o do Bio e do Orgânico… Conceitos altamente discutíveis.
Bem- vindos à Idade Média, pessoal! Isto está a ficar um mimo!
Cá para mim, não passam de pessoas que não gostam delas, estão militantemente deprimidas, descarregam nos outros e inventam “causas”, as tais que abominamos.
Uns mais na calha, mais espertos, e os sonsos “carneiradamente” a seguir o seu rasto. É por isso que os sonsos têm tanta saída. Já o filósofo José Gil diz no seu livro, Portugal, Hoje. O Medo de Existir, ser o alicerce da mentalidade portuguesa.
Por falar em medo e sonsos, a partir de agora não há cá nada disso, e se existe quem ignore a morte, estes tratam-na por tu a cada entrada em praça!
Sonsos deste país! Mas é que nem aos calcanhares chegam dos que vou falar agora, ahhhh era tão bom se todos pudessem ver e saborear as coisas com os meus olhos.
Todos os que colocam o pé na arena, numa corrida, toureiros, peões de brega e forcados! São loucos?
São atletas ou artistas? Pessoas normais ou seres especiais? São feitos de outra massa? Como gerem medo?
Rijos que nem cornos! (ainda me lembro da primeira vez que ouvi esta expressão, até incomodada fiquei, e agora é mesmo isto).
Quem são estes personagens estranhos que decidem buscar a glória no fio da navalha do fracasso e da morte? Já pensaram bem? Não são atletas, mas têm que treinar e ter disciplina como se fossem e não para ganhar medalhas, podem ter emoções/ angústias, mas não as podem mostrar, são artistas e num cenário sempre diferente, correm sempre risco! A gestão do stress em perfeito equilíbrio com o espetáculo, nem consigo imaginar, bravos que são!
E quem não tem esta preparação, física e mental, vão como meio despidos para a praça, e isso nota-se tão bem…
E depois de “sustos”, que inevitavelmente quase todos tiveram, têm que ser mesmo valentes para voltar às arenas.
Se isto não é brincar com a morte, será certamente com a vida, super-heróis com os seus trajes especiais, que num contexto especial, roçam o perigo, e depois quando tiram o traje, querem-nos convencer que são pessoas normais… Não, não são…
E por fim tenho que falar em dois núcleos muito especiais, o Grupo de Forcados Amadores de Cascais e os de Coimbra! Ele há coisa com mais bravura que manter grupos de forcados em terras sem praças? Verdadeiros bastiões de afición!
O primeiro, no activo desde 1981, viu a sua praça ser vetada ao abandono e passar a ser “ordinariamente” um parque de estacionamento, vergonhosamente intitulado de “Praça de Touros”… e prestes a sucumbir á especulação imobiliária, como quase tudo neste País, em detrimento da sua Cultura, onde é que eu já ouvi isto? Uma praça onde fui tão feliz, entre concertos e grandes “corridões”, este fim não podia ter acontecido! Mas o que aconteceu no meio de tanta miséria, foi o milagre do Grupo desta Vila ter continuado!! Bravos e rijos que são, e obrigada por continuarem no activo!
O segundo núcleo, uns valentes! Um mais antigo que outro, e honra seja feita a uns pela perseverança e outros pela inovação! A maior praça que por lá existiu, onde é hoje o Portugal dos Pequeninos imagine-se, o Coliseu de Coimbra, foi destruída por um fogo em 1935. Mas que mérito, obrigada, mesmo muito! Todos eles, acrescentam aquele grãozinho aos restantes, aquele grão que nos arrebata!
Há sempre uns mais á frente que outros, estou farta de dizer isto…
Ora, e se tudo isto não vos convence que não existem amores impossíveis, apenas pessoas incapazes de lutar por eles, fica a dica, grátis!
E é esta a verdade, alguns têm-nos mais no sítio que outros, os neurónios, claro…
Ester Tereno