Nem as praças se medem aos “esgotado”, nem os cavaleiros triunfam a troco de dois extraordinários ferros nem se fazem figuras sem uma expressão continua da sua arte.
Porém, encher a Celestino Graça com a lotação máxima dos tempos de pandemia; cravar extraordinariamente e ter muitas lides fora do normal, fazem da tarde de touros em Santarém um dos grandes momentos do difícil ano que todos vivemos.
Por outro lado, há cravagens de ferros que ficam nos anais da História e as duas Mourinas que João Moura Júnior realizou no seu segundo oponente foram desses momentos.
Enquanto que Francisco Palha continuou a subir o nível a cada uma das suas lides nesta temporada, tendo fulminado de emoção a maior praça do País, e isso, com a arte com crivo próprio que nos tem dado a cada actuação, torna-o figura da arte tauromáquica.
Acresce a tudo isto um trabalho espectacular da equipa Praça Maior. Se há um ano em que as empresas tiveram necessidade pura de se destacarem e dar tudo de si para erguerem a Festa, foi este ano do Covid.
E se a empresa Ovação e Palmas, de Miguel Pombeiro, e que fez Estremoz e gere o Campo Pequeno, é sem dúvida a empresa de mérito de 2020; então temos de dar a César o que é de César e dizer que a empresa Praça Maior, que reabilitou a praça da capital do Touro e a mais difícil de preencher pela dimensão, foi a empresa que ganho o lugar do prémio de consagração depois do de revelação.
Isto apesar das surpresas de gestão que se colocam corrida a corrida, como a demora de entrada na Celestino que deixou centenas de pessoas sem verem a primeira lide do Maestro Ribeiro Telles. Maestro que, aliás, esteve magistral na sua segunda actuação (a primeira estava na extensa fila para entrar na praça), ante mais um condescendente à lide oponente de um curro bem dividido entre as ganadarias de Veiga Teixeira e Murteira Grave.
As pegas vendem muitas entradas, e os grupos de forcados de Santarém e Montemor são daqueles grupos líderes de escalafón, que naturalmente levam gente à praça e não defraudaram ninguém nas suas actuações. Tudo isto junto, hoje em dia, dá muito mais do que uma boa tarde de touros. Dá o futuro da tauromaquia em Portugal.
Silvia Del Quema