Gosto tanto do Arturo Perez –Reverte, não fosse ele taurino, um destes dias em Lisboa para apresentar o segundo volume da série Falcó, Eva, um policial negro ambientado no tempo da Guerra Civil Espanhola (1936-1939), este antigo repórter e agora escritor, disse:
“Nos anos 30 havia inocência, os lutadores sejam anarquistas, fascistas, comunistas, etc., tinham fé!
A Internet, uma ferramenta que devia ser utilizada com muitas vantagens, ter no bolso toda a sabedoria do mundo, todo o conhecimento humano, é maravilhoso, no entanto usamos para whatsapp, publicar tweets idiotas e para dizer 4 lugares comuns. Vamos cometer uma espécie de suicídio intelectual, possivelmente merecido. Se calhar, temos o que merecemos. Estamos a suicidarmo-nos culturalmente. E quando isto acontece, não há esperança nenhuma de recuperação.”
Voltamos ao mesmo… cultura, tauromáquica ou geral, ou apenas a falta dela, de cultura apenas, como um todo.
Vivemos na era da superficialidade dos “likes” e dos opinadores de plateia e do trabalho que dá ser politicamente correcto – e isto sou eu que até acho que sou uma miúda moderna. Mas se não soubermos dosear a maravilha que é termos o mundo todo num bolso, “desaculturamo-nos” rapidamente e comemos todos só Sushi e MacDonald’s..
E eu que não gosto de futebol, mas percebo o fenómeno de massas, vi o Benfica ser punido por conta de um Pasodoble… (“Estilo musical utilizado nas corridas de touros”, pode ler-se no mapa de castigos do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol), será melhor nem tentar perceber o que aqui aconteceu.
Na verdade, se já existem hambúrgueres vegetarianos, qualquer dia temos presunto vegan… um verdadeiro atentado ao melhor presunto do mundo, o da minha terra! Mas tudo bem…
E uma marca conhecida de supostas margarinas tem como publicidade ás suas novas bebidas vegetais: “As plantas são as novas vacas”. Nem sei bem que reacção isto me provoca, mas não é simpática.
E o IVA dos restantes espetáculos baixou para 6%, e no “Nosso” nada… sinto-me ostracizada? Claro, como sempre, sinto-me pouco defendida na minha paixão, óbvio!
E quando me dizem em Espanha por exemplo, que a juventude é um problema no que toca a encher praças de touros, eis que surge como uma mensagem divina (ainda que o cosmos tenha mais o que fazer do que preocupar-se connosco), uma criatura mágica.
Não desafazendo de todos os outros grandes que movem e continuarão a mover massas, e o nosso querido Pirata, que de superação e loucura tem as doses aumentadas e nos merece todo o respeito e profunda admiração.
Mas não resisto a uma boa dose de magia, e já vão perceber de quem se trata.
Há algum tempo que não gostava tanto de “conhecer” alguém. E não é porque falta à maioria maestria, arte, verdade, profundidade ou mistério, que falta, mas porque são raras as pessoas que pensam maior, isto é, em todos nós neste planeta taurino.
E é sempre preciso grandiosidade para distinguir os detalhes, distância para ser objectivo e generosidade sempre! E generosidade é o que não lhe falta para nos dar o que ele nos dá.
Roca Rey, o Grande! O que move multidões, o que provoca a loucura generalizada, o que leva miúdos e mais miúdos a quererem ser como ele!
E de menino passa a lenda num ápice, a entregar-se como não se via há tempos e tempos. Chegou onde ninguém sonhava, toureia lado a lado com os grandes, e fá-los suar. Não é melhor nem pior que nenhum dos grandes é apenas um fenómeno. Gigante.
Tirando um ou outro mais azedo ou só torto, tem o mundo perdidamente apaixonado por ele.
Todos o adoram, sem idade ou classe social, ele é para todos, um profundo fenómeno e esteta raro. Comove tanto a estrela da televisão como a empregada de limpeza.
Não consigo sequer escrever sobre as suas faenas, ninguém sabe como as faz, um misto de inconsciência, bravura, loucura, a forma como se arrima, e dádiva, porque partilha tudo o que o move, connosco… Será genético? Será que lhe corre nas veias? Que mistério é este?
E há tanta coisa que não precisa ter qualquer tipo de explicação para ser amada. Esta é só mais uma, uma forma de arte, um menino, um miúdo, uma criança, extra- ordinária!
E depois há a poesia, a fazer a vez do amor e apenas lógico e cinzento, para reduzir-nos à insignificância de mais uma moldura na estante, daquelas que um dia se vai encher de pó. E resta-nos admirar, celebrar, comover e agradecer cada faena, cada entrega.
Se calhar só precisávamos disto mesmo, de um novo Rei e um novo Reino, que revolucionasse tudo de uma vez!