Ao contrário do nome que lhes dão, sobresalientes, acho mais adequado o SOBREVALIENTES.
Não sei se terei palavras suficientemente dignas para mostrar a minha admiração ao seu papel fulcral.”. Toureiros, que o são… apenas oito letras para descrever seres excepcionais pela sua entrega, paixão, arte, devoção e tantas outras qualidades. Até podem parecer pessoas comuns á primeira vista, normais como outro qualquer, mas há qualquer coisa de espiritualidade que os converte numa espécie de divindade neste microcosmos da vida e da morte. E depois existem estes valentes, que nunca desistem, que sempre esperam…
O sobresaliente é um matador de touros, que faz o paseíllo junto aos Maestros e restantes componentes da quadrilha. E a importância deles? Pois é, no caso que o toureiro não possa continuar a lide, é a vez do sobresaliente de assegurar a continuidade do espectáculo. Mas já repararam na “carga” desta função? Por um lado, são profissionais que por alguma razão, não têm tido as oportunidades ansiadas e que não querem perder o contacto directo com o ambiente taurino. Por outro, mantêm sempre a ilusão de triunfar en el ruedo. Mas tudo isto tem um sabor agridoce, pois o seu papel é de substituir o diestro que por razões sempre infelizes, não pode continuar a lide. E esperam, esperam…
Quem não se lembra de Álvaro de la Calle o herói da encerrona onde Emilio de Justo sofreu uma grave colhida em Madrid, logo no primeiro touro?
Disse: “Me sentí respetado por la exigente afición de Madrid, y prueba de ello es que nadie se marchó de la plaza hasta que acabó el festejo. El público pudo ver que mi actuación fue seria y muy de verdad”; “Sueño con ser figura; muchos toreros han triunfado al final de su carrera”.
Este toureiro veterano, sai pelo seu próprio pé e na companhia da sua família, depois de ter lidado valorosamente os cinco touros que o Maestro Emilio não toureou.
Depois disto, já a empresa Ludi Arles Organisation anunciou que será o terceiro espada da corrida de 11 de Setembro em Arles, visto que tinham deixado uma “vaga” para um espada que se tivesse destacado na temporada. E aí está a oportunidade de Alvaro, que bom!! Alterna com Domingo López Chaves y Maxime Solera. Tão merecido este reconhecimento!
Outro caso, em Santander, na encerrona de Gines Marin, reaparece Miguel Ángel Silva. O diestro extremenho que também é jornalista, voltou a vestir-se de luces quatro anos depois da sua última corrida.
Precisamente Ginés Marín foi testemunha da sua alternativa a 1 de Outubro de 2016 na praça de touros da sua terra natal, Zafra. Como padrinho, Morante de la Puebla. Disse na sua conta de Twitter: “Hoy vuelvo a vestirme de Luces. Cuatro años después. Acompañaré a Ginés Marín en su encerrona en Santander. Lo estoy viviendo como si fuese la primera vez”.
E tantos, tantos outros, sempre á procura da perfeição, lidam com o instinto de sobrevivência como qualquer um de nós faria na mesma situação, mais, fazem-no em segundo plano para alguns.
Há atitude mais nobre? Tudo por conta da apaixonante religião: a do toiro bravo. E haverá sempre quem os chame de loucos, muitas vezes incompreendidos outras, aplaudidos, mas sempre, sempre excepcionais.
O toureiro triunfa, mas não devia esquecer estes actores secundários, nem que fosse um passe apenas, convidá-los e honrá-los nesta sua nobre “função”.
Quanta humildade!! É o valor e a arte dos toureiros.
E sempre há os que não chegam a entrar em praça, e nenhum “demérito” há nisto, seja pela incerteza do futuro, seja pela paixão pelo toureio, alguns não desistem deste sonho e continuam nesta espera. E saem sempre de cabeça erguida!
Alguém disse e tão bem: “Es que lo que pasa en el ruedo no puede describirse con palabras”
Nada de novo, os SOBREVALIENTES são maiores que o comum dos mortais.
Ester Tereno